...a chuva começava a despistar minha paciência enquanto andava sobre uma calçada coberta de árvores de parque que faziam sombra branda sobre mim. Apertei o andar, segui minha sombra e vi ao meu lado um cão, andando, imitando meus passos ao dobro em quatro patas molhadas.
Vi pelos seus olhos que me seguiam, que queria levantar o olhar mas tinha a matreira de um cão de rua. Como um bom companheiro momentâneo.
Na hora com pingos de chuva, peguei o celular e quis gravá-lo ao meu lado. Maldito, não gravou nada, mesmo com a rua iluminada.
Eu estava sem meu morcegão, molhado dos ombros para metade das costas, entendiado e culpando meus dois empregos. Naquele momento quis registrar meu amigo de lado, mas a câmera não permitiu.
Passou uma mulher com seu guarda-chuva, me lembrei quando recebi uma carona a pé de uma companheira de ponto de ônibus e de mesmas águas, há tempos atrás. Sem nunca tê-la visto, partilhei de dois ou dez minutos de barulho de chuva. Mesmo momento com o cão, de ontem.
Ao virar a esquina, me afastei enquanto a chuva apertava e o cão despistou-se ocupando-se com a rua e voltando à sua vida de noite e de dias.
Me comparei com o cão e vi que muito de mim também sabe que é sozinho, que anda, vê, reparte águas e morcegos, vive sozinho com vidas que param e andam para outras esquinas.
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