quarta-feira, 27 de julho de 2011

Adeus

Enquanto um deles dobrava as roupas que estavam sobre a cama, o outro, sentado na beira do sofá perguntou:

- E agora? Por que está zelando por essas roupas que você não usa faz tempo?
- Vou usá-las de novo. E vou para casa
- Aqui é a sua casa
- Não mais...

Um breve silêncio ecoou na sala, foi quebrado por um ‘hum’ do outro que se mexeu no sofá.

- Você me ama?
- Sim, e o silêncio voltou e foi quebrado novamente, sempre vou te amar... pra sempre mesmo.

Os olhares se cruzaram

- E você? Me ama?
- Sim! soou seco, mas verdadeiro.
- Por isso vou embora.
- Entendo. E já sabe para onde vai?

Deu de ombros e virou para pegar os chinelos.

- Pra casa da minha mãe

O olhar do outro estava na mesma beira onde estava sentado.

- Sua mãe? Ela está um pouco velha!
- Vou cuidar dela. Você vai me visitar?
- Sim, às quartas e sextas. Caso queira podemos marcar para sair aos sábados.
- Claro!
- Você vai me esperar?
- Sim, com bolo!

O olhar baixou enquanto a mala era fechada.

- Adeus Eduardo!
- Gosto de bolo de laranja
- Eu sei

E um beijo curto antes de sair fez com que continuassem a se amar. Com gosto de laranja.

domingo, 17 de julho de 2011

Tristeza de supermercado


Sempre achei supermercado um lugar triste. Não sei. Ou é culpa das altas prateleiras, ou das tampas de maionese amontoadas ou simplesmente a minha vida amorosa que anda tropeçando em ilusórias coincidências e enxerga tristeza até no supermercado.
É um sentimento guardado, escondido, que não fala e não age. Sentimento de solidão que desabrocha automático quando vou ao supermercado, acompanhar a mãe ou um amigo que quer comprar pão. Pão de forma.
Assim como não se deve ir ao shopping quando está solteiro, não se deve ir ao supermercado.
As filas da carne, as geladeiras frias e até as gôndolas de chocolate são tristes. Creio que deva haver uma explicação nisso tudo, por trás dessa melancolia escondida nessa ilha das flores. Mercadinhos são mais aconchegantes que os grandes magazines, mas carregam sua tristeza pertinente comumente. São tristes, solitários e quem está ali, não está.
As pessoas vão ao mercadinho de chinelos, bermuda e blusa de alça e lá passa a ser uma enorme dispensa de casa, vazia. Creio que o espírito de família ronda esses lugares e quase sempre me imagino velho, maduro, comprando pão para levar para casa e comer numa mesa forrada. Acho supermercado triste. Deve ser por isso.
Observo o teto, a cobertura metálica e tudo ali é vazio, ao contrário dos corredores de sorvete e cebolas. Ainda mais se for domingo. O mercado passa a ser um lugar quase que depressivo.
Sugeriria aos casais iniciantes que marcassem um encontro no supermercado, não sempre, mas de ora ou outra para passear entre os corredores horti-fruti e de congelados. Seria um passeio agradável e decisivo, um tanto estranho, mas que um dia, no casamento formatado, teriam que ‘passear’ obrigados por esses lugares. Um teste de futurologia amorosa, sem compromisso.
Já fui ao supermercado com mãe, amigos e amores. E sempre achei triste.