quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Avenida dos Maracás

Marcamos às 19h30.
Hora quebrada, dia de semana, para nos reencontrarmos.
Até que naquele dia as coisas deram certo, foi tudo bem no trabalho, na condução, no almoço. Não foi um daqueles dias em que você marca um encontro e dá tudo errado. Foi normal, até.
Há quase quatro anos morremos um para o outro. Não tínhamos notícias do que cada um fazia da vida por um tempo que dava para entrar e sair de um bacharelado. E resolvemos marcar e olhar um para o outro e ver no que dá.
Marcamos na Avenida dos Maracás, à noitinha para tomar um chopp no barzinho mais próximo. Antes do encontro, eu ria. Ria sozinho e tentava imaginar o que levou a pessoa que um dia eu amei, depois de tantos outros beijos, remarcar para me ver e trocar algumas palavras que ficaram na gaveta.
A avenida movimentada, com ruas estreitas e gente circulando. No centro da cidade.
Fui direto do trabalho, não me dei o trabalho de tomar um banho e me arrumar para alguém que já foi meu. Pra quê?
Cheguei depois da hora marcada, uns oito minutos, mas me alarguei na esquina e isso transformou-se em dez. Avistei de longe o ponto marcado pelo msn. Era a entrada de uma loja colorida, com nome engraçado. Mesmo atrasando de propósito, cheguei antes. Notei que estava nervoso e não conseguia mais rodear a avenidinha.
Guardei os fones de ouvido, arrumei a mochila nas costas e olhei para a rua. Estava sozinho esperando um amor que foi embora e voltaria naquele dia para 'me ver' e 'como eu estava'.
Lembrei da noite em que, eu pude olhar e ver esse amor ir embora no ônibus. Naquele dia, não lembro onde foi, não lembro onde fui, mas tive a certeza que não voltaria.
Porém, estava eu ali, veja só, esperando novamente a mesma pessoa que não me quis mais, ou que eu não quis mais no passado.
Notei a fachada da loja, colorida, com flores pintadas que brotavam das paredes e, com suas raízes, entravam pela porta de vidro. Lá dentro vi uns jarros de porcelana, pintados à mão, enfileirados na prateleira e quis ter um deles.
A vendedora parada ao lado do balcão, com os braços para trás, lançou um sorriso simpático. Devolvi sem encará-la e fugindo de seu olhar, novamente notei as flores pintadas nas parede da frente. Elas não eram tão bonitas agora, olhando de perto. Estavam desbotadas, sem brilho, mas inexplicavelmente ficavam vaidosas naquela hora do dia, com a ausência da luz. A noite torna-as vibrantes, vivas e prontas para adentrar os demais muros.
De longe eram boas, viçosas. De perto, desbotadas e sem traços.
Perdido nos contornos floridos daquela loja ouvi um 'oi' ao meu lado. Reconheci a voz.