domingo, 19 de junho de 2011

O amor e a parede

Parte 1 de 1000 – e com capítulos possivelmente consequentes

Entre as regras para se encontrar o amor, há uma parede.
Conversando com alguns amigos atuais e depois de emprestar o ombro para outros em ocasiões mais antigas, tenho alguns parágrafos a perder, para falar do amor, mas não do amor efetivamente, mas de uma distância de alguns metros que separa o início ao tortuoso, e delicioso, caminho até um relacionamento a dois. Viés caricato para o amor, um itinerário afável e longínquo.
Relacionamento que se chama o outro de bebê, fala com voz enfeitada e se presenteia com ursinhos pode ser considerado uma paixonite aguda, frio na barriga que se não souber levar, estraga. Amor mesmo é mais maduro, mas os ursos fazem parte.
Ontem, um dos amigos chorou no meu ombro, disse que a tampa da sua panela estava tapando outras bocas por aí, uma boca morena. Outra flor das minhas, anteontem, reclamava dos emails encaminhados a ela pelo sujeito que foi embora e não deixou rastros de voltar, embora tenha voltado conseguinte. Hoje, teve a história das mãos que se entrelaçaram e nem sequer houve beijos para a situação se tornar mais perfumada. Mesmo que fossem beijos vagabundos, mas que houvesse beijos, pô. Não houve. Têm também as minhas lembranças, as mais doloridas dos dias de músicas dedilhadas no violão, quando eu chorei, reergui e depois caí feio de novo e ainda assim, depois me levantei cheio de ranços e ascos contra o amor. Nessas horas eu via a parede concreta, cinza, levantada em minha frente.
Tem muito a contar, não só de mim, mas de outros além, que andam com uma parede dura em sua frente, sem notar o aroma do amor atrás dela. Mas o que adianta? Mesmo com todas as provas concretas contra ou a favor do amor, ele nunca será o culpado. O culpado seremos sempre todos nós que engatilhamos regras ao que se aplica na vida, daquele tipo de ‘ligo ou não ligo?’. Uma frase sábia que certa vez ouvi durante o expediente: Tem vontade de ligar? Liga cacete!
Parece simples, mas não é. Na verdade é, mas preferimos complicar. Tem ego, medo, frio e regrinhas nesse meio. De relacionamentos antigos conturbados até àquelas que novamente retornaram às bexigas esvoaçantes desse tal sentimento. Se a uns ele se aplica em forma de fogo, outros ele nem sequer aquece. Esse é o amor.
Tem vezes que eu me canso do trabalho, dos dias e de horas perdidas em porta de balada. E tem horas que tudo o que me irrita, passa a me agradar. Estranho isso, um sentimento bipolar, que anda junto. Porém, remoendo um pouco mais percebo que quando há um alguém que se ouve a voz além da parede, parece que podemos ver e sentir esse alguém, sem que haja parede alguma separando um e outro.E os problemas... que problemas?
Ai nota-se que, apesar de, a parede continuar ali, não conseguimos notá-la.
Não posso afirmar que há benefícios em não se ver uma parede, pois podemos – literalmente – quebrar a cara. Parece clichê, mas quebro a cara constantemente nessa tal parede entre eu e o outro. Desde as provas de amor até o amor provado no momento de escassez dele mesmo, o tom da voz que há por trás da parede vai dizer se é viável ou não enfiar o nariz no tijolo.