segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Proeminências da morte

Acho a morte bela. Desculpe, mas é bela.
Ninguém explica e minhas afirmações sobre tal, não querem afirmar que ela não tenha me feito chorar e perder meus sensos, porém, a morte realmente é bela por não haver como confrontá-la.
Neste final de semana, um primo de longe morreu. O telefone tocou no início da madrugada e um frio gelou minha espinha. Mamãe atendeu e recebeu a notícia de que o ‘Negrinho’ tinha morrido. Infarto, daqueles que levam fulminante.
Antes de me dizer quem havia falecido, ouvi apenas um sujeito indeterminado em suas palavras e esses segundos em saber quem havia partido, me fez branco. Era um primo de longe, do interior, de quarenta e poucos. A imagem que me veio, ao saber que ele era agora o morto, era dele balançando uma válvula de privada entre as pernas, fazendo graça, arreganhando um de seus dentes podre. Poucas lembranças, mas como toda morte, fez lembrar, deu uma saudade e me fez olhar o antebraço e me auto-afirmar que não somos ‘nada’ de nada.
Motivos para encontrar beleza na morte é notar essas situações que cercam o fato. Lembrar, sentir saudade imediata, uma dor que se mistura com um platônico sentido de perda.
Pela fé religiosa, para algum lugar se vai. “Descansou”. Não há como acabar ali, numas que durou. No caso do primo, restaram lembranças, embora a família que compartilhava o banheiro com Negrinho estaria agora chorando e questionando os ventos. Para os que acreditam apenas em átomos, não há corredores, mas também não se acaba ali. A morte não é o fim para ambos os modos.
Contaram que o mais novo disse em chacota: “Meu pai morreu” e a tia ralhou dizendo para não dizer essas coisas. Era verdade, o pai estava morto em casa e ele disse isso antes de saber do destino. Histórias que aparecem e que ninguém desmente.
A notícia rodou por telefone e nosso cotidiano quase mudou. Minha mãe cogitou viajar para prestar os tributos convencionais, mas logo mediu seu convívio ultimato e desistiu alegando falta de dinheiro. Outro pormenor resultado do apego é o querer estar perto. Quando há distância de tempo, uma prece responde a ausência física.
Tenho lembranças amargas da morte. De um amigo, uma afilhada, um desconhecido e do avô. Ambos com proeminências individuais.
Desde o telefonema choroso, dizendo que o amigo se foi de maneira brutal, até a notícia de que o corpo da prima já estava no instituto de análises para doações.
O avô foi antes da primeira comunhão, quando toda a minha roupa branca já era alugada. Uma tia segunda da família veio avisar pelo vão do portão e as risadas dadas há pouco, agora eram lágrimas. Rimos horas com fotos, depois choramos durante anos.
Tenho uma imagem desse dia, quando fomos todos aos cortejos do velho, morto por uma pancreatite crônica. A imagem é a de um nascer do sol. Saímos de madrugada, depois de fazer malas tristes e partir para a cidade morta. A família toda pesada, com lágrimas quentes e silêncio no banco de trás. Ao cruzarmos o último trecho da rodovia antes de entrar na cidade, eu, sonolento, olhei para fora do carro lá na frente e vi um sol amarelinho, com belos raios e fiquei feliz rapidamente. Não pude compartilhar, só observei quieto. Tenho essa imagem nítida em minha mente e queria parar ali, sem ter que estar numa cerimônia relutante.
Do amigo, um dia à tarde após passar no açougue, lembrei que seu corpo descansava ali por perto. Resolvi ir, sentar e olhar para sua foto. Era muito bonito, de terno e camisa passada, sério em preto e branco. Chorei e quis abraçá-lo. Ele estava ali, embaixo.
As etapas da morte são todas de sofrimento. Desde quando se sabe que alguém amado se foi, até o momento de compartilhar essa notícia. Ver a pessoa. Sentir. Conformar-se dolorosamente. Ficar ali. Esquecer, tomar um café, observar a lua. Lembrar, chorar, cair em si.
Fechar, cortejar. Sair, voltar e sentar no sofá da sala. Perder-se nos pensamentos e notar que esteve olhando para uma parte branca da parede sem sentido nítido. Tentar dormir, acordar no outro dia após uma noite cheia de sonhos de mentira, no qual a pessoa estava vívida, alegre, em frente.
Levantar após horas de ensaio. Chorar mais, buscar no quintal. Olhar a pia cheia de louças e querer espatifar um copo na parede. Não adiantaria.
Essa é a parte, o triste gosto da morte.
Os anos passam e a conformidade é como um mar no qual antes parecia um abismo que hoje já se navega em águas mais profundas. Olha para trás e chora num choro mais conformado. Ainda há tristeza e uma etapa de superação humana que nunca terá fim.
Uma outra imagem me vem à cabeça quando vejo alguém que chora por outro que foi embora na morte. Imagino essas duas pessoas um dia se reencontrando. Sabendo que houve a morte, lembrando e dizendo que ‘eu chorei tanto, mas tanto, quando você foi embora’ e a outra pessoa rindo e dizendo que tudo passou e agora estão juntos novamente. É bonito, mas não sei como é.
Como seria esse reencontro? Imaginando sem pragmatismos religiosos ou qualquer sentido que o valha, mas apenas pelo sentido de poder. Pensando como uma situação normal, cotidiana, no qual se marca num lugar, de boas lembranças e ali haja o encontro, o re.
A morte me inspira escrever, pensar, sonhar e me encantar sem poder afirmar.
Um dia, ao visitar um cemitério humilde, passei pela ala dos anjos, de crianças mortas. Vi diversos túmulos com brinquedos coloridos, trens e cata-vento. Ali, crianças. E em um dos túmulos, talvez o mais humilde, havia apenas pedras brancas e brinquedos fincados na terra fofa e isso me entristeceu. Desse jazigo, podem-se tirar muitos pensamentos, como eu tive os meus. Inexplicáveis. Uma ida que dói nos outros, que faz levar esses plásticos coloridos a dormirem sobre o sereno da noite numa cova rasa. Ficaram ali, com o menino.
Peço desculpas por tentar escrever sobre a morte. Tudo o que falam sobre ela é ensaio.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Vai, Curintia!

O fato é engraçado. E complicado para se explicar. Essa crônica nasceu no meio do Anhembi, no finalzinho dos desfiles de carnaval, enquanto eu tentava explicar a um colega do trabalho, o meu repúdio ao Corinthians, o time. Antes de a escola entrar, o furor, o frisson, o sangue nos olhos dos fanáticos pelo time, ou melhor, pelo Timão, faziam as arquibancadas tremer. Chega a ser bonito, mas não tanto.
Desde criança, enquanto sentia calafrios antes das aulas de educação-física por não jogar futebol, tive amigos que ‘amavam’ o Corinthians (vamos abreviar para C.U, de CUrintia) sem contar meu pai que é CUrintiano fanático.
Nunca joguei futebol. Nas aulinhas de quadra, tentava o vôlei, o hand, a queimada (queimada?), pular corda e sempre enfrentei preconceito por não jogar futebol. Todos jogavam, todos no sentido masculino da palavra: os meninos da sala. Os meninos que não jogavam, já sabe. Menina que jogava não sofria preconceito. Engraçado. Tinha uma amigona, a Cris, que sempre jogou e era bem aceita na redoma masculina-machista e também pelas meninas. Em toda aula, eu torcia para que algum amigo mais próximo não jogasse, para eu ter a desculpa de... ah, a desculpa para não jogar e dizer: “Viu o Fábio também não joga!?” Meus amigos que não jogavam, eram de outra sala.
Para chegar ao C.U, tenho que passar por essa vertente masculinizada que envolve o futebol. Um bom grado para identificar sexualidade.
Lá em casa, aos domingos, tios, primos e meu pai reuniam-se no sofá para assistir jogo de futebol. Quando C.U jogava, meu pai alcoólatra sem fase de recuperação, bebia o dobro dentro e fora de casa para comemorar a bola preta e branca rolar no gramado. Não bebia pela vitória do timão, simplesmente bebia, ganhando ou perdendo. Após o jogo, na ausência dos demais só com a célula em casa, via minha mãe reclamar da bebedeira dele e as brigas aparecerem. Foi assim durante anos.
Amigos corintianos são aqueles que não aceitam que eu não goste do C.U. O fato não é falar mal, ou dizer que corintianos são isso ou aquilo. É simplesmente não gostar. Isso parece não ser aceito. Você tem que gostar, como os fãs de Restart ou Luan Santana. Se você diz a eles que não gosta, parece que está ofendendo.
No carnaval passado, um dos torcedores criou inimizade comigo, por eu dizer apenas que ‘não achei a escola bonita’. Ficou batendo a bandeirinha na minha cabeça e queria que eu aceitasse C.U
Não torço para nenhum time de futebol e por isso não tenho argumentos para ofender o C.U tomando por base outros times como Palmeiras ou São Paulo. Posso dizer que com o C.U é diferente. A história é outra e envolve muitas vertentes. Na arquibancada, enquanto via a Gaviões da Fiel desfilar, vi o entusiasmo das pessoas. Mostravam o braço, as pernas e a nuca arrepiados, como se um frenesi tomasse conta do lugar. E tomou mesmo. Neste ano, o homenageado da escola foi o ex-presidente Lula, que veio em vídeo no centro do brasão corintiano. Uniu o útil ao agradável, a meu ver. Tentei filosofar e pensar o que é o C.U ou 'o que faz um Corintiano?' Só o fato ‘torcer’? De dizer ‘sou’? Vejo muitos pseudo-fanáticos dizendo: “Vamos ganhar!” Vamos quem? Baixando a guarda, percebo que é quase uma religião, mas sem um Deus. Ou o técnico seria esse deus?
C.U abstrato torna-se real. Faz vibrar, arrepiar. Nos arredores da avenida, batiam na veia do braço e diziam: “Aqui é CUrintia” mas eu não consegui explicar o que é o C.U; Muito menos eles, que batiam. São os jogadores? (mas eles trocam de time); Será o clube; técnico; escola de samba; (?)
No meu caso, não quero que fique claro que não gosto do C.U, mas exijo explicações de sua existência. Atrás de mim, na arquibancada, vi um jovem, bêbedo, com as pupilas vermelhas e um mini cigarro na mão. Com a camisa do timão, balbuciava algumas palavras do samba-enredo. No meu preconceito atuante, me auto afirmei que aquela caricatura petulante é a real imagem de um corintiano, mas logo ao lado, vi uma moça, linda, de belas pernas e cabelos encaracolados, chorando e cantando o mesmo hino com grande fervor. A imagem se distorceu e vi que C.U representa uma nação, mesmo sem, a meu ver, existir. Eu sempre soube de suas cores, brasões, mascotes e nunca torci. Informações que me vieram alheias.
C.U representa muito. Assim como o futebol e as peladas de rua. Tenho que aceitar essa vertente apesar de não praticar nem um, nem muito menos o outro. C.U não existe, mas tira lágrimas dos olhos de quem o segue.
Dizem que política, religião e futebol não se discutem. É mentira.
"Eu e minha mochila Herchcovitch tentando decifrar o que é o Corinthians"

domingo, 12 de fevereiro de 2012

O Padre quer conversar


 "Veja aquele rapaz despudorado ferindo nossa moral cristã" disse um dos freis da tirinha.
  "Você desrespeitou a igreja e o papa" disse-me o pároco da minha comunidade, por telefone.
  Se houver comparações, pode-se afirmar que eu me passei por aquele jovem que feriu a fé por meio de uma tirinha que une crítica e humor ácido à igreja e aos pudores da religião.
Sol tapado com a peneira se formos tentar amenizar os escândalos que acontecem nas sacristias e confessionários ao redor do mundo. Escândalos quando comparados à cegueira de alguns pais da igreja que preferem não ver a que resolver. Em Levítico 22, no livro dos livros, a palavra usada é "abominação" e isso me faz lembrar o Abominável Homem das Neves. Será que essa lenda na verdade não fala de um homem das montanhas de Aspen, que oferecia comida e abrigo aos turistas masculinos em troca de satisfação sexual?
  Há duas semanas o padre da comunidade onde participo me chamou para uma conversa. 'Tem que ser pessoalmente' disse enfadonho do outro lado da linha.
Adiantou-me que queria satisfações de uma tirinha (anexa acima) que eu postei em minha página pessoal na rede social do momento. Uma tira(da) do cartunista Angeli, que mostra dois freis assistindo de suas cúpulas a Parada Gay acontecer nas avenidas defronte à capelinha.
  A tirinha é sutil, chega até ser bonitinha, mas em suas últimas falas, aflora a hipocrisia que a igreja tenta esconder e vez ou outra estoura em noticiários jornalísticos. Dá para tirar várias conclusões do quadrinho: desde a pedofilia, homossexualidade enrustida ou as duas vertentes juntas, fruto de repressão e celibato forçado.
 Aceitei conversar com o padre, embora eu entenda que não tinha de dar satisfações ao pároco que celebra as missas onde minha banda toca aos domingos. Senti-me pressionado no início, lembrei da palavra "Ditadura" várias vezes e de alguns dos personagens que sofreram represálias na época, mas logo lembrei que no ano de meu nascimento, em 85, era o fim da ditadura. Nasci livre desde então.
 Com palpitadas fortes, aceitei a conversa corretiva e sem delongas comecei a digestão dessa intimada santa, que ficou marcada para o domingo antes das dez da manhã.
  Não aguentei. No mesmo dia, ao passar em frente a igreja do Cristo Operário e notar que estava acesa, num salto dentro do ônibus, toquei o sinal e desci para tirar aquela história a limpo de uma vez por todas. Chamei o padre que veio me atender com um sorriso e um aperto franco de mão.
- Não aguentei padre, eu disse. Vim logo porque estou curioso interessado no que o senhor tem para me dizer.
- Sem grilo, ele disse. Só queria conversar, as pessoas estão falando, comentando sabe!?
  Confesso que a pressão dessa conversa das dez me deixara armado, com pedras e foices na mão, mas após o padre esfriar minha espinha, senti que pude raciocinar melhor sobre quais palavras usar quando fosse defender minha livre opinião sobre isso ou aquilo no domingo próximo. Naquele dia, não pode me atender e conversar a panos frios. Ficou para domingo mesmo.
No dia, minha banda estava escalada para tocar na missa das dez e exatamente às nove e vinte da manhã, enquanto arrumávamos os equipamentos da banda, em sua batina branca, o padre passou e me chamou para a sacristia. Deu ordem aos ministros para que ninguém entrasse ou atrapalhasse nossa conversa. A porta do céu estaria fechada, pois os anjos estariam trabalhando. Olhos arregalados dos outros serventes de branco.
  A conversa foi sutil. Há mais de dez anos nós nos conhecemos e temos profundo respeito um pelo outro. Cada um em suas condições. Ele começou falando, dizendo que um terceiro mostrou a tirinha para ele, visto que ele não tem perfil na rede. Disse que como padre, ele tinha o direito de me alertar sobre esse comportamento fora da igreja, pois querendo ou não eu era um agente de pastoral em sua paróquia, ou seja, trabalhava cantando, atuando e editando o jornal paroquial.
  Após minutos em defesa da igreja, de cuidados nas atitudes e formalidades, foi minha vez. Entendi sua posição e entendi que se preocupava com a publicação daquela tirinha por alguém que serve em sua paróquia. Porém, usei o argumento da individualidade. Publiquei isso em minha página pessoal, somente. Não foi uma opinião profissional, em nada que fosse da igreja. Sempre publico textos, vídeos, fotos interessantes e nunca levaram isso a ele, até encontrarem uma brecha para atacar. Este terceiro, oculto, está entre meus 'amigos', um contato que me adicionou e denunciou-me como 'o despudorado'. Usei o termo mesquinho para definir essa tal pessoa que teve o trabalho de printar a página, entrar em contato com o padre e mostrar o que eu publiquei.
- Não vamos julgar a pessoa, ele disse.
Concordei, mas julguei sim, a atitude. Mesquinha. Atitude de quem precisa de um tanque cheio de roupa para lavar ou um mato para carpir. Porém, apesar de tudo, percebi que sobre essas pessoas é que nos fazemos mais fortes e nos entendemos mais humanos. Sem querer, esse abominável-mesquinho-denunciador-de-homossexuais-on-line propiciou uma conversa com o padre que se fosse por mim, nunca iria acontecer.
Um tema desse não é falado pela igreja, não é discutido. É abafado. (Abafa!)
Esse foi um dos pontos altos da conversa. Quando eu citei que a igreja não se pronuncia sobre a homossexualidade, quando não fala qual o caminho que gays, lésbicas e trans devem seguir quando se propõe a seguir determinada religião, também não se pode definir regras apenas baseando-se na Bíblia para atacar, queimar em praça pública ou apedrejar. Porém, o padre, me mostrou toda sua sabedoria quando ao ver esses argumentos, respondeu por si: 'Eu não sei'
Deu um suspiro e assumiu que tal tema não é apenas tabu, mas sim ignorância, no melhor sentido da palavra, de não saber mesmo, não ter argumentos para explicar (se é que tem explicação) a homossexualidade e suas vertentes. Ele podia usar de argumentos do Catecismo, dizer que é um afronte ao Criador e que há um inferno esperando pelos homem que deitam com homens e vice-versa (rs). Mas, não. Ele admitiu que a igreja é ausente nesse sentido. Percebi que estava conversando com um Homem e não com um padre fanático.
Argumentei que, enquanto a comunidade eclesiástica está nessa dúvida, muitos homossexuais estão se suicidando, impedidos de serem aceitos por um Deus, ou pela igreja propriamente dita. Lembrei de uma entrevista que fiz com Marcelo Gil, da ONG ABCD'S, que luta pelos direitos homossexuais na região do ABC Paulista,  no qual ele me contou um caso que me chocou: 'Pai e mãe quebraram as pernas da filha de 16 anos, quando descobriram que ela era lésbica.' Com as pernas quebradas, a adolescente não poderia sair de casa.
...
Sugeri que sem pré-conceitos, para que ele se informasse, para poder falar, ajudar mais e notar que há ministros, padres, bispos, agentes de pastoral homossexuais e que acreditam ser a fuga o melhor dos caminhos para essa doença sexual, que nada tem em patologia.
Lembrei de uma homilia feita por ele, logo após a liberação da União Homoafetiva do Supremo Tribunal de Justiça, no qual ele leu uma carta do Bispo de nossa diocese, direcionada mais aos héteros como um manual para o tratamento de pessoas homossexuais.
A carta, era cheia de dedos, assim como ele, o padre, estava em seu discurso no altar. Minha avaliação, sem julgamentos, era de que ele estava perdido, escolhendo palavras e sem desfecho concreto para encerrar a conversa.
- Não queria ofender ninguém, argumentou.
  Sei que não, mas mais uma vez é provado que, a igreja não sabe o que dizer.
  A conversa chegou num ponto (já faltavam dez minutos para começar a missa) que, as opiniões eram claramente adversas e jamais iríamos chegar num consenso. Ele como padre, eu como eu.
- Não concordo, porém respeito.
"...olha, um arco-íris termina na capela"
Foi o que sugeri como encerramento do papo santo.
O padre não desmistificou sua opinião. Era aquilo e pronto. Eu também.
Com algumas palavras, ele definiu que o tempo cura e responde tudo.
Terminamos a conversa. Saímos da sacristia sob olhos atentos e famintos por informações. Arrumei meu microfone e no decorrer da missa, cantei o Glória e o Entoemos, enquanto ele consagrou a hóstia e proferiu o perdão dos pecados. Na homilia desse domingo, proferiu as seguintes palavras:
- Conversando com um amigo eu disse que o tempo cura e responde perguntas que só Deus tem as respostas.
Meu amigo me cutucou com a perna e notou que ele falava de mim.Identificou-me como 'amigo' e isso já pode ser um grande começo.