quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Forrest Outback

Fui jantar em um restaurante australiano com um grande amigo. Sucesso por carnes vermelhas e brancas e também milhares de indicações, fomos e sentamos em frente um ao outro compartilhando gracejos e zombaria alheia. Era quarta-feira, meu dia fatídico e cheio de superstições.
Ele havia me convidado um dia antes, dizendo que a cebola era o melhor acompanhamento do mundo. Eu estava um pouco escaldado com promessas gastronômicas, pois uma semana antes comi pela primeira vez comida japonesa e não tive boas surpresas. Algo me dizia que eu nunca iria gostar dos peixes e molhos pretos e percebi que tinha tido uma visão futurista. Não gostei de nada, a não ser do saquê.
No Outback, o restaurante australiano da quarta, combinamos de colocar as fofocas instantâneas na mesa e debruçar sobre uma noite quente de verão em janeiro nossas sei lá o quê. Sentamos na varanda e eu sabia que o amor não estava sorrindo para nenhum de nós dois.  Estava em outro lugar, viajando deveras.
Ele estava e não estava. Eu, não estava há um tempo. E juntos ríamos e contávamos histórias conhecidas para acalentar o coração que esperava o frango Alice-no-País-das-boas-ervilhas.
Agachou sobre nossos joelhos quem iria nos dizer que a noite era branca. A garçonete de sorriso largo e dentes para frente nos disse seu nome e prometeu nos acompanhar na pequena mesa. Björk, Johnny Cash e Fiest embalavam. Corinne apareceu no meio do papo e nós, contávamos nossas (des)ilusões amorosas um ao outro, parando segundos para observar alguém bonito que passava
Ele, meu amigo, está numa fase triste. Dessas que não se sabe se o relacionamento terminou ou se ainda tem alguns pneus. Nas palavras ora tristes, ora esperançosas dele, me lembrei de já ter visto e presenciado essas arestas num tempo passado nem tão distante. Falávamos das músicas, das tristezas que elas nos trazem e das alegrias que uma boa trilha rememora ao embalar nossos dias.
Lembramos dos tempos de faculdade, comíamos a batata meio frita meio crua e dizíamos o quanto é difícil amar e ser maduro naquilo que é tão bonito para ser desperdiçado. Tudo era tão complicado, que nas palavras do meu amigo eu me reconhecia em alguns parâmetros. Sentia que a cada dia me afastava dessa ideia de franquia amorosa. Esse amor mesquinho que pensa em tirar proveito do outro e esquece da doação, da caridade, do dar companhia.
A garçonete, sorria e só uma vez o vi apressada. Não sei se é praxe da casa ou mesmo regra ser educado ao máximo com os que pagam, mas ela foi natural.
Depois do sorvete, ainda pairava sobre a mesa o resto de marshmallow e os resquícios de Amor não resolvido que depositamos sobre a mesa. Do papo que ficou sem terminar.
- Namorar. Estamos falando disso, eu soltei para Nathália, a garçonete.
Ela sorriu e contou-nos sua história. Enquanto eu digitava a senha do cartão e meu amigo riscava com o garfo o resto do creme no prato, Nathália disse que era casada, mas encontrou o seu outro amor na cozinha de um restaurante onde trabalhavam juntos.
Ambos eram casados. E se amaram.
Eu via brilho em seus olhos quando disse que estava reformando o apartamento ‘do nosso jeito’ e quando contou toda a trajetória que teve que percorrer para se separar de seu antigo marido para amar outro que conheceu entre os pratos. Ela se separou. O dos pratos também e agora estão juntos, com expedientes trocados e os corações andando juntos.
Ouvíamos atentamente sua história, até ela encerrar o atrito da noite parecendo ter ouvido toda a nossa conversa desde as nove.
- O amor é simples, disse. E depois sorriu.

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