Uma interligação interessante aproxima o trabalho cotidiano com as fabulosas artimanhas de relacionamentos amorosos. O emprego tem uma linha em nó com casos que permeiam os corações entre o afeto do amor que assemelha-se com o ato útil e rotineiro que chamamos de trabalho. Pode parecer um tanto frio ou até mesmo grotesco comparar interesses afetivos do coração com o ato necessário que dignifica o homem, mas há sim, uma verossimilhança curiosa entre amor e trabalho, analisadas em partes sensíveis e remuneradas.
O emprego exige um perfil, dom, diploma. Há dotes que se aprendem na escola e teorias que se fortificam com a prática. Para o pedreiro, a amizade com o cimento; Para o médico o cheiro do sangue; Como para a prostituta, o corpo sem beijos. No amor as exigências são únicas e distintas para cada pessoa. Um gosta das curvas, outra dos olhos e seus mistérios, outro dos seios, outra da inteligência, outros de outros. O perfil, conta tanto no trabalho como no amor. O currículo? Cartas. As músicas, a trilha do rádio ligado ao lado da mesa no escritório.
As melhores e passageiras aproximações do amor ocorrem entre música alta, ou na varanda da noite ou no banheiro da rodoviária. São como os trabalhos free lance, onde se ganha mais, trabalha-se rápido e a ousadia assina o resultado. As transas perigosas e sem sentimento são as mais ardentes e merecidas do gozo contínuo. Nem se lembram nomes e sim da foda. Nem da empresa, mas do produto.
Os empregos fixos são como os namoros ensaio-casamento. Nove, dez, doze anos ensaiando para um dia ser demitido e vagar em busca de um corpo free-lance. Quem casa com a empresa corre o risco de ficar hipertenso, ranzinza e com varizes, mas tem um casamento duradouro, broxante e ao mesmo tempo, invejável por aqueles que apenas trabalham com freelas, sem filhos ou netos correndo pelo quintal.
As indicações também servem no amor, pois a amiga fala mal do ex porque ainda ama e quem ouve sabe que o dito faz bem e pode trabalhar nele daqui para frente. A concorrência esconde a intolerância. As melhores vagas são silenciosas, fora de painéis iluminados. Ninguém ama um sujeito jogado num caderno de emprego, como é raro conhecer alguém que trabalhe numa multinacional depois de ficar anos solteiro, ou melhor, desempregado. Tem aqueles que pagam pouco, não registram em carteira e ainda não fazem sexo oral. Ninguém, estando neste século, trabalha em um emprego sem o tal do sexo oral. É preciso falar, sem tabus.
O divórcio é como o sócio que alimenta amizades com fornecedores e clientes principais da empresa que ainda presta contas, para mais cedo ou mais tarde montar seu próprio negócio, levar as ações e depois ver o parceiro chorar no tribunal, pois os filhos tinham direito ao dinheiro lavado da conta de ambos. Sendo assim, os clientes são os amantes e a empresa o antigo home sweet home.
Tem gente que esquece o crachá da empresa no pescoço quando vai encontrar o amor na estação e se pudesse, teria no sobrenome o nome da multinacional.
Há também as paqueras de trabalho. A velha história do mandar cartas de amor a outras empresas enquanto se trabalha nela. Empregos anteriores servem de referência para um amor atual. Uma coisa que não pode acontecer - no caso do amor - é ligar para pedir referências passadas. Empresas batem de frente na concorrência, no amor é igual.
A sogra, maldita por memória, são os chefes que vêm de brinde num emprego bom. A história do amor ao trabalho e o ódio ao chefe, mas há quem goste dele e troca bolachinhas, mesmo que em alguns casos a sogra seja homem.
A nova casa tem computador, mesa redonda e máquina de café. Lá se dorme, cochila e trabalha. Para as segundas e quartas, stress e às vezes sexo escondido depois do expediente, com a secretária ou com o estagiário. No escritório, os filhos, a TV, o fogão para as mais moderninhas. Os ambientes se misturam em degradê, com a cor da parede. O quarto principal é a sala do encarregado e do subordinado, o Box apertado perto da janela.
O salário vem em duas partes, com descontos em folha do INSS, poupança e do empréstimo para o casamento.
O trabalho e o amor estão separados em lados: um do lado profissional e o outro do lado pessoal, ou seria no lado sentimental? Há de se concordar que um dignifica e o outro destrói. Não há sorte nos dois ao mesmo tempo da vida, ou há? Afinal, são tantos lados que não se sabe se é necessário amar o trabalho ou trabalhar melhor o amor.
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