terça-feira, 13 de abril de 2010

O Teto

Hipóteses de pés que pisam no assoalho de vidro e refletem sua própria imagem no solo. Outrora, ouça o ruído que o teto pisado faz e quem é que está sobre as nossas cabeças. Há possibilidades de tocar o teto e ouvir se algum gato vagabundo anda acima e ainda é cedo para julgar se nosso destino é um dia pisar sobre a cabeça dos outros O teto que está sobre nós, revela que mesmo com as ilusões de não haver nada sobre nossas mentes, ainda há um teto, um lugar mais alto. Refleti sobre essa hipótese quando em pé sobre um tablado de cimento, fiquei mais perto do teto que outrora era distante e me causava alegria quando conseguia tocá-lo com meus dedos finos. Seja por algum que me levantou ou por subir em um móvel imóvel e firme. Me fez tocar o teto. Com as andanças da vida, passei a me aproximar do dito postulado e nem sequer me dei conta de que ele se aproximava de mim. Busquei – e ainda busco – sua proximidade íntima e ele se afasta quando mais eu o busco. Assim como a vida, o teto é um fato interessante, concreto de natureza e abstrato em suas conformidades. Podemos ouvir quem nele pisa, mas não saber quem nele está. Mesmo que para o ouvidor, o teto seja o auge, para quem pisa ele é o mínimo e para este também há um teto. Hoje pisamos no teto que serve de sonho para outro homem, abaixo de nós nem que seja só de passagem, amanhã nosso teto pode ser um chão. Quem o vê, nele quer estar, nele quer ser, encostar. O teto como fato inerente demonstrado por pinturas de cores ocres, borra-se com a bota de quem pisa. O teto é um segredo. Conciso em ser sustento e sonho ao mesmo tempo, separados em questões hipotéticas e um mesmo que o relata em ser apenas teto. Ouça enquanto um barulho provido do teto preocupa e um, do chão, incomoda. É mais trágico um teto cair sobre nossas cabeças do que um chão ruir abaixo de nossos pés. Paredes de cima preocupam mais do que as de baixo. Quem ousaria entrar numa casa onde o teto está caindo? Prefiro pisar no solo que se dilata do que bancar o besta em colocar minha cabeça abaixo de um concreto molambo. Infeliz de quem não se dá conta de que pisa num teto, naquilo que um dia foi o seu teto. O chão nada mais é do que teto de alguém e o teto, chão de outro. Batem as vassouras dos edifícios pedindo silêncio, trocam as lâmpadas do andar de baixo e olha-se pelo vão na obra mal acabada. Ainda quero estar no teto que observo com olhares fixos e sugiro que quem for pisar no meu teto, tenha consciência de que eu o deixei bem limpo e varrido. Digno de ser polido e capaz de abrigar um corpo cansado. O chão que um dia foi chão e hoje é teto para alguém, enquanto eu piso no teto que é meu por merecimento.

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