Robson não jogava futebol. Ficava sentado no palquinho do páteo, lendo um seiláoque, enquanto eu me distraía fingindo ser próximo no vôlei e intercalando no ping-pong da salinha. Na verdade eu tinha asco das aulas de educação-física. As aulas na quadra eram as de maior tortura para mim. O quadradinho livre dos fundos dava para jogar um hand, queimada ou o
O Textículo
Neste blog, pequenos textos do muito que se vê, se fala e se vive na poesia calcada de suor no cotidiano. Assim como o feminino de 'leão' é 'leã', de 'cão' é 'cã', o diminutivo de texto é "Textículo"
segunda-feira, 19 de agosto de 2013
Robson não jogava futebol
Robson não jogava futebol. Ficava sentado no palquinho do páteo, lendo um seiláoque, enquanto eu me distraía fingindo ser próximo no vôlei e intercalando no ping-pong da salinha. Na verdade eu tinha asco das aulas de educação-física. As aulas na quadra eram as de maior tortura para mim. O quadradinho livre dos fundos dava para jogar um hand, queimada ou o
domingo, 7 de outubro de 2012
O que me irrita em dias de eleição e ano-novo
Praça da cidade, com coqueiros, parque de diversões e cavaletes animados |
Neste domingo, dia do pleito, saí de casa com dor na consciência em saber que sou obrigado à votar em alguém. A obrigação me faz doente, me mostra o quão dependente ainda sou de um país que se diz livre.
Em dias de eleição e ano novo, fico nervoso. Chego até a tremer, por saber que me obrigam implicitamente nessas duas datas à, respectivamente, votar e comemorar. Já pensou em não comemorar o réveillon? Ficar no quarto, comendo algum prato pronto e dormir antes da meia noite? Não dá. Os fogos te acordam, a televisão te impregna da novidade chamada ano, sem contar os familiares que te perguntam se está tudo bem, para 'numa época de festa, você querer apenas ficar quieto no seu quarto'.
Fora os desejos de correr nu pela rua nessas datas, o que me incomoda muito (e me incomodou extremamente neste 7 de outubro de 2012) foram as ruas forradas de santinhos e cavaletes, quebrados e atrapalhando o fluxo ainda por cima. Vejam as fotas.
Mulher caminha sobre santinhos políticos em frente à escola que serve de ZONA eleitoral |
Em tempos contemporâneos, fala-se tanto de sustentabilidade, limpeza da cidade, cuidado com o quadrado do outro e ainda assim notamos as ruas infestadas de papéis que vão entupir bueiros e urnas eletrônicas, porquê inocente é aquele que pensa que os santinhos não fazem milagres. É incrível a quantidade de pessoas que não se informam sobre os candidatos antes das eleições e acabam votando no primeiro papelzinho que encontram no caminho da zona eleitoral. Vergonhoso. E não para por aí. A boca de urna é explícita, feita pelos mais 'simples e humildes' que ganham setenta reais para tomar um pinga - e que porre é esse? - quando humildade não se confunde com ignorância.
Vamos votar em quem menos aparecer nas papeletas? |
Num mundo perfeito, não teríamos tanta sujeira na rua, tanta cara desconhecida sorrindo para alcançar voto, tanta pobreza camuflada. O problema é que, quando questionamos a obrigatoriedade de votar, eu me pergunto como seria se não fôssemos obrigados a exercer essa função de jurados para calouros-políticos. Se votar de maneira obrigatória já é ruim, pior seria se não houvesse essa tal democracia. Então já não sei o que pensar e o que querer, já que tudo parece ser uma questionável opção.
terça-feira, 2 de outubro de 2012
365 Diários - Um ano neste emprego
Gosto de guardar papéis. Do banco, cinema, chocolate, bala de menta. Papéis com histórias, que foram importantes em algum momento da vida.
Gosto também de rememorar e marcar datas. Quando mudo de casa, encontro uma música boa, reencontro alguém no trem.
Uma das coisas que eu mais gosto também é de fazer aniversário de trabalho, de trampo, de serviço. Contar os dias e notar que algum tempo se passou desde que comecei a trabalhar em determinado lugar e ver o quanto cresci com as experiências.
Na publicação deste post (03 de outubro de 2012) estou completando um ano de trabalho na empresa Diário de S. Paulo, como produtor multimídia, editor da TV Diário/BOM DIA; e resolvi escrever para comemorar.
Saí de outro jornal em agosto de 2011, sem rumo, sem saber aonde trabalhar.
Estava psicologicamente abalado por um trabalho que estava me tirando a paz e me baixando a auto estima profissional. Trabalhava mais de dez horas por dia, folgas mínimas e uma vida social comprometida. Se quiser conferir toda a saga da saída desse ex-trabalho, só clicar aqui.
Lá, eu trabalhava na parte de vídeos, fazendo a mesma coisa que faço hoje: gravando como cinegrafista e editando no premiere CS3.
Após minha saída, lembro-me que o dia seguinte em casa foi de muito pesar. Embora eu não quisesse me abalar facilmente para não entrar no desespero do desemprego, aquela quinta-feira foi muito desgastante, embora eu não tivesse fazendo absolutamente nada.
Era um dia de muito sol. Sol escaldante. Acompanhei um amigo ao ponto de ônibus e a rua parecia se contorcer, tamanha era minha confusão. Estava triste, com medo de ficar desempregado, sem saber que rumo tomar.
Meu ex (atual) chefe, já estava no Diário. Lembro-me que, o jornal iria estrear um novo portal, com um canal de vídeos exclusivo. Lembrei disso.
Mandei o texto deste blog, comunicando minha saída e propus conversarmos para, possivelmente, eu trabalhar no novo portal na área dos vídeos. Depois de toda a saga, lembro-me do chefe me ligar e dizer:
- Fica tranquilo. Te ligo na segunda.
Aquilo me deu um grande alívio. Saber que haveria uma possibilidade por trás daquele 'Fica tranquilo'
Quando entrei no novo trabalho, levei comigo alguns traumas do trabalho anterior que até então estavam me estafando psico e fisicamente. Ao sair no meu horário, me sentia culpado, imaginando que poderia trabalhar mais um ou duas horinhas, mesmo sem ter coisas efetivas para fazer. O portal ainda nem sequer tinha estreado e eu numa pilha absurda. Traumas antigos.
Fizemos vários testes, várias reuniões antes do novo portal estrear. Quando estreou, eu tive que 'rechear' toda a página de vídeos sozinho, o que me assustou um pouco.
No começo, o portal teve picos de audiência, era novidade e direto passava o comercial na poderosa das emissoras. Estava ansioso para gravar, editar matérias super legais e não imaginava que não seria assim. Seria melhor.
Junto comigo entraram também algumas pessoas. O bom disso, foi o crescimento mútuo. O engraçado era, que na época em que eu entrei, o jornal havia demitido em massa muita gente e em minha caixa de email, eram constantes as mensagens de 'Até logo' ou 'Fiquem com meus contatos' num momento que tudo era novidade para mim. Enquanto um ciclo se fechava para alguns, outro se abria para mim.
A primeira pauta que eu fiz no novo emprego foi o Cirque Du Soleil, na turnê Varekai. Gravei com uma câmera amadora e pude assistir todo o espetáculo. Foi mágico, literalmente. Logo que estreamos, quando coloquei o primeiro vídeo, com qualidade pífia e o logo do jornal no ar, meu chefe veio ao meu encontro e bateu as mãos comigo dizendo: 'Estreamos'.
Depois disso, as matérias foram melhorando e na convivência com meus novos companheiros de trabalho, foram aparecendo as amizades, algumas intimidades e o respeito profissional. Tenho a sorte de trabalhar com pessoas de muita índole e que sabem o que é sofrer na vida para dar valor ao que se tem.
A redação é mediana em tamanho físico. Dá para conhecer todo mundo, mas não convém, como tudo na vida.
Uma das coisas que eu prezo bastante no meu trabalho é a autonomia. Poder dar ideias, realizá-las e poder brincar com as possibilidades, ver e sentir o resultado. Pude gravar ótimas matérias, conhecer ótimas pessoas e claro, me realizar profissionalmente.
Um ano. Estou há um ano neste novo trabalho e muito feliz. Gosto de contar minhas experiências para as pessoas, pois há muito de enriquecedor no próprio testemunho de vida.
Chega de conversas. Abaixo, listo sete das, que eu julguei, as melhores reportagens produzidas por mim para a TV Diário. Segue em ordem decrescente:
7º Lugar: Fãs da Britney acampam em frente ao Anhembi
Esta matéria foi engraçada. Dancei com os fãs na gravação, trocamos figurinhas e ainda fiquei na pista premium no dia do show. Loosho!
6º Lugar: São Paulo Assombrada: Liberdade
Um dos vídeos da série "SP Assombrada" que gravei com dois grandes companheiros de trabalhos aleatórios. Dois temas que me instigam: a cidade e seus fantasmas
5º Lugar: Monstros comentam as últimas Noites do Terror do Playcenter
Sonho de criança: conhecer quem são os monstros do Playcenter, entrar onde eles se transformam. Me transformei depois disso.
4º Lugar: Zombie Walk SP 2011
O sonho de qualquer fã do gênero. Ver a cidade infestada de zumbis.
3º lugar: Entrevista com o dublador do Kiko, Nelson Machado
Preciso falar alguma coisa?
2º lugar: Quartel da Polícia no Pq. Dom Pedro
Esse é um lugar que eu sempre quis entrar na cidade. Do lado de fora, o imóvel me encanta. Entrei e gravei seu abandono.
1º Lugar: 5 anos do acidente da TAM
Essa foi a matéria que me fez doente. Chorei na gravação, passei mal sonhando à noite e tive um resultado divinal quando pude prestar essa homenagem aos familiares que choram por seus entes falecidos neste triste fato. Valeu.
Vamos ver o que virá por aí. Já edito em CS5.
Gosto também de rememorar e marcar datas. Quando mudo de casa, encontro uma música boa, reencontro alguém no trem.
Uma das coisas que eu mais gosto também é de fazer aniversário de trabalho, de trampo, de serviço. Contar os dias e notar que algum tempo se passou desde que comecei a trabalhar em determinado lugar e ver o quanto cresci com as experiências.
Na publicação deste post (03 de outubro de 2012) estou completando um ano de trabalho na empresa Diário de S. Paulo, como produtor multimídia, editor da TV Diário/BOM DIA; e resolvi escrever para comemorar.
Meu bloco de anotações e ao fundo a página de quem sou o pai |
Estava psicologicamente abalado por um trabalho que estava me tirando a paz e me baixando a auto estima profissional. Trabalhava mais de dez horas por dia, folgas mínimas e uma vida social comprometida. Se quiser conferir toda a saga da saída desse ex-trabalho, só clicar aqui.
Lá, eu trabalhava na parte de vídeos, fazendo a mesma coisa que faço hoje: gravando como cinegrafista e editando no premiere CS3.
Após minha saída, lembro-me que o dia seguinte em casa foi de muito pesar. Embora eu não quisesse me abalar facilmente para não entrar no desespero do desemprego, aquela quinta-feira foi muito desgastante, embora eu não tivesse fazendo absolutamente nada.
Era um dia de muito sol. Sol escaldante. Acompanhei um amigo ao ponto de ônibus e a rua parecia se contorcer, tamanha era minha confusão. Estava triste, com medo de ficar desempregado, sem saber que rumo tomar.
Meu ex (atual) chefe, já estava no Diário. Lembro-me que, o jornal iria estrear um novo portal, com um canal de vídeos exclusivo. Lembrei disso.
Mandei o texto deste blog, comunicando minha saída e propus conversarmos para, possivelmente, eu trabalhar no novo portal na área dos vídeos. Depois de toda a saga, lembro-me do chefe me ligar e dizer:
- Fica tranquilo. Te ligo na segunda.
Aquilo me deu um grande alívio. Saber que haveria uma possibilidade por trás daquele 'Fica tranquilo'
Quando entrei no novo trabalho, levei comigo alguns traumas do trabalho anterior que até então estavam me estafando psico e fisicamente. Ao sair no meu horário, me sentia culpado, imaginando que poderia trabalhar mais um ou duas horinhas, mesmo sem ter coisas efetivas para fazer. O portal ainda nem sequer tinha estreado e eu numa pilha absurda. Traumas antigos.
Fizemos vários testes, várias reuniões antes do novo portal estrear. Quando estreou, eu tive que 'rechear' toda a página de vídeos sozinho, o que me assustou um pouco.
No começo, o portal teve picos de audiência, era novidade e direto passava o comercial na poderosa das emissoras. Estava ansioso para gravar, editar matérias super legais e não imaginava que não seria assim. Seria melhor.
Junto comigo entraram também algumas pessoas. O bom disso, foi o crescimento mútuo. O engraçado era, que na época em que eu entrei, o jornal havia demitido em massa muita gente e em minha caixa de email, eram constantes as mensagens de 'Até logo' ou 'Fiquem com meus contatos' num momento que tudo era novidade para mim. Enquanto um ciclo se fechava para alguns, outro se abria para mim.
A primeira pauta que eu fiz no novo emprego foi o Cirque Du Soleil, na turnê Varekai. Gravei com uma câmera amadora e pude assistir todo o espetáculo. Foi mágico, literalmente. Logo que estreamos, quando coloquei o primeiro vídeo, com qualidade pífia e o logo do jornal no ar, meu chefe veio ao meu encontro e bateu as mãos comigo dizendo: 'Estreamos'.
Depois disso, as matérias foram melhorando e na convivência com meus novos companheiros de trabalho, foram aparecendo as amizades, algumas intimidades e o respeito profissional. Tenho a sorte de trabalhar com pessoas de muita índole e que sabem o que é sofrer na vida para dar valor ao que se tem.
A redação é mediana em tamanho físico. Dá para conhecer todo mundo, mas não convém, como tudo na vida.
Uma das coisas que eu prezo bastante no meu trabalho é a autonomia. Poder dar ideias, realizá-las e poder brincar com as possibilidades, ver e sentir o resultado. Pude gravar ótimas matérias, conhecer ótimas pessoas e claro, me realizar profissionalmente.
Um ano. Estou há um ano neste novo trabalho e muito feliz. Gosto de contar minhas experiências para as pessoas, pois há muito de enriquecedor no próprio testemunho de vida.
Chega de conversas. Abaixo, listo sete das, que eu julguei, as melhores reportagens produzidas por mim para a TV Diário. Segue em ordem decrescente:
7º Lugar: Fãs da Britney acampam em frente ao Anhembi
Esta matéria foi engraçada. Dancei com os fãs na gravação, trocamos figurinhas e ainda fiquei na pista premium no dia do show. Loosho!
6º Lugar: São Paulo Assombrada: Liberdade
Um dos vídeos da série "SP Assombrada" que gravei com dois grandes companheiros de trabalhos aleatórios. Dois temas que me instigam: a cidade e seus fantasmas
5º Lugar: Monstros comentam as últimas Noites do Terror do Playcenter
Sonho de criança: conhecer quem são os monstros do Playcenter, entrar onde eles se transformam. Me transformei depois disso.
4º Lugar: Zombie Walk SP 2011
O sonho de qualquer fã do gênero. Ver a cidade infestada de zumbis.
3º lugar: Entrevista com o dublador do Kiko, Nelson Machado
Preciso falar alguma coisa?
2º lugar: Quartel da Polícia no Pq. Dom Pedro
Esse é um lugar que eu sempre quis entrar na cidade. Do lado de fora, o imóvel me encanta. Entrei e gravei seu abandono.
1º Lugar: 5 anos do acidente da TAM
Essa foi a matéria que me fez doente. Chorei na gravação, passei mal sonhando à noite e tive um resultado divinal quando pude prestar essa homenagem aos familiares que choram por seus entes falecidos neste triste fato. Valeu.
Vamos ver o que virá por aí. Já edito em CS5.
quarta-feira, 12 de setembro de 2012
Avenida dos Maracás
Marcamos às 19h30.
Hora quebrada, dia de semana, para nos reencontrarmos.
Até que naquele dia as coisas deram certo, foi tudo bem no trabalho, na condução, no almoço. Não foi um daqueles dias em que você marca um encontro e dá tudo errado. Foi normal, até.
Há quase quatro anos morremos um para o outro. Não tínhamos notícias do que cada um fazia da vida por um tempo que dava para entrar e sair de um bacharelado. E resolvemos marcar e olhar um para o outro e ver no que dá.
Marcamos na Avenida dos Maracás, à noitinha para tomar um chopp no barzinho mais próximo. Antes do encontro, eu ria. Ria sozinho e tentava imaginar o que levou a pessoa que um dia eu amei, depois de tantos outros beijos, remarcar para me ver e trocar algumas palavras que ficaram na gaveta.
A avenida movimentada, com ruas estreitas e gente circulando. No centro da cidade.
Fui direto do trabalho, não me dei o trabalho de tomar um banho e me arrumar para alguém que já foi meu. Pra quê?
Cheguei depois da hora marcada, uns oito minutos, mas me alarguei na esquina e isso transformou-se em dez. Avistei de longe o ponto marcado pelo msn. Era a entrada de uma loja colorida, com nome engraçado. Mesmo atrasando de propósito, cheguei antes. Notei que estava nervoso e não conseguia mais rodear a avenidinha.
Guardei os fones de ouvido, arrumei a mochila nas costas e olhei para a rua. Estava sozinho esperando um amor que foi embora e voltaria naquele dia para 'me ver' e 'como eu estava'.
Lembrei da noite em que, eu pude olhar e ver esse amor ir embora no ônibus. Naquele dia, não lembro onde foi, não lembro onde fui, mas tive a certeza que não voltaria.
Porém, estava eu ali, veja só, esperando novamente a mesma pessoa que não me quis mais, ou que eu não quis mais no passado.
Notei a fachada da loja, colorida, com flores pintadas que brotavam das paredes e, com suas raízes, entravam pela porta de vidro. Lá dentro vi uns jarros de porcelana, pintados à mão, enfileirados na prateleira e quis ter um deles.
A vendedora parada ao lado do balcão, com os braços para trás, lançou um sorriso simpático. Devolvi sem encará-la e fugindo de seu olhar, novamente notei as flores pintadas nas parede da frente. Elas não eram tão bonitas agora, olhando de perto. Estavam desbotadas, sem brilho, mas inexplicavelmente ficavam vaidosas naquela hora do dia, com a ausência da luz. A noite torna-as vibrantes, vivas e prontas para adentrar os demais muros.
De longe eram boas, viçosas. De perto, desbotadas e sem traços.
Perdido nos contornos floridos daquela loja ouvi um 'oi' ao meu lado. Reconheci a voz.
Hora quebrada, dia de semana, para nos reencontrarmos.
Até que naquele dia as coisas deram certo, foi tudo bem no trabalho, na condução, no almoço. Não foi um daqueles dias em que você marca um encontro e dá tudo errado. Foi normal, até.
Há quase quatro anos morremos um para o outro. Não tínhamos notícias do que cada um fazia da vida por um tempo que dava para entrar e sair de um bacharelado. E resolvemos marcar e olhar um para o outro e ver no que dá.
Marcamos na Avenida dos Maracás, à noitinha para tomar um chopp no barzinho mais próximo. Antes do encontro, eu ria. Ria sozinho e tentava imaginar o que levou a pessoa que um dia eu amei, depois de tantos outros beijos, remarcar para me ver e trocar algumas palavras que ficaram na gaveta.
A avenida movimentada, com ruas estreitas e gente circulando. No centro da cidade.
Fui direto do trabalho, não me dei o trabalho de tomar um banho e me arrumar para alguém que já foi meu. Pra quê?
Cheguei depois da hora marcada, uns oito minutos, mas me alarguei na esquina e isso transformou-se em dez. Avistei de longe o ponto marcado pelo msn. Era a entrada de uma loja colorida, com nome engraçado. Mesmo atrasando de propósito, cheguei antes. Notei que estava nervoso e não conseguia mais rodear a avenidinha.
Guardei os fones de ouvido, arrumei a mochila nas costas e olhei para a rua. Estava sozinho esperando um amor que foi embora e voltaria naquele dia para 'me ver' e 'como eu estava'.
Lembrei da noite em que, eu pude olhar e ver esse amor ir embora no ônibus. Naquele dia, não lembro onde foi, não lembro onde fui, mas tive a certeza que não voltaria.
Porém, estava eu ali, veja só, esperando novamente a mesma pessoa que não me quis mais, ou que eu não quis mais no passado.
Notei a fachada da loja, colorida, com flores pintadas que brotavam das paredes e, com suas raízes, entravam pela porta de vidro. Lá dentro vi uns jarros de porcelana, pintados à mão, enfileirados na prateleira e quis ter um deles.
A vendedora parada ao lado do balcão, com os braços para trás, lançou um sorriso simpático. Devolvi sem encará-la e fugindo de seu olhar, novamente notei as flores pintadas nas parede da frente. Elas não eram tão bonitas agora, olhando de perto. Estavam desbotadas, sem brilho, mas inexplicavelmente ficavam vaidosas naquela hora do dia, com a ausência da luz. A noite torna-as vibrantes, vivas e prontas para adentrar os demais muros.
De longe eram boas, viçosas. De perto, desbotadas e sem traços.
Perdido nos contornos floridos daquela loja ouvi um 'oi' ao meu lado. Reconheci a voz.
terça-feira, 28 de agosto de 2012
Eu deveria ser mais político
Aquele clichê de sempre: "Futebol, política e religião não se discutem", mas eu sempre acreditei no contrário. São assuntos que mais rendem debates, discussões e posicionamentos. E é bom falar sobre.
O que me levou a escrever este texto foi um fato recente que aconteceu comigo no Facebook: Eu comentei uma foto de um amigo de faculdade, que tinha sido marcado enquanto esteve em um congresso de uma candidata xis de uma cidade xis do abC.
Na foto, repleta de jovens, a futura (ou talvez não) prefeita da cidade, falava num microfone e a única cabeça virada da foto, era desse meu conhecido. Sua expressão era engraçada e resolvi comentar assim:
'Pensamento do fulano: Na boa véi, cê acredita?' e publiquei.
Até imaginei que isso poderia render alguns comentários anti, ou mesmo outros achando a piadinha engraçada, mas o que me rendeu foi esse conhecido me chamando no bate-papo individual e pedindo, gentilmente, para que eu retirasse o comentário, pois ele trabalha na prefeitura e eu 'poderia fudê-lo'.
Pensei comigo: Quanto rabo preso! Porém, analisando a situação, percebi o quanto todos nós temos nossos rabos presos em diferentes circunstâncias da vida e em diferentes locais no mundo, até aqui.
A política é uma merda mesmo, mas dependemos dela e isso é uma outra merda. Na verdade, política e politicagem são duas grandes antíteses que se confraternizam de maneira muito implícita.
Nossas timelines ficam repletas de candidatos que aparecem nessas épocas com rostos limpíssimos, gestos carinhosos e slogans otimistas. Aí aparecem alguns dos seus amigos apoiando o ciclano, te chamando no chat, mandando email marketing estreitando laços para marcar uma conversa e apresentar propostas. Vão fazer corpo-a-corpo, são solícitos aos idosos e compartilham imagens usando terninhos black-tie.
Tudo isso é politicagem. E necessária.
O comentário que escrevi não refletia o pensamento do meu conhecido, refletia a minha opinião e sempre fazemos piadas um com o outro. A foto estava na minha timeline de uma fulana que eu nem sei que é (e agora já peguei raiva da mulher) duma cidade que nem sequer eu voto lá e eu ainda não tenho o direito de fazer o comentário que eu quiser!? Mesmo sendo brincadeira? No meu perfil? Não, não posso.
Apaguei o comentário por respeito ao meu ex-amigo. Vai saber, se calha de ele ser mandado embora e eu acabo como culpado nessa história.
Eu, sempre que vou escrever/falar/confabular sobre política, sempre tento encontrar as melhores palavras. Isso quando eu falo, porquê prefiro ficar quieto e votar em silêncio. Não tenho perfil para estar na política, ou melhor, trabalhar com politicagens, não consigo, até que um dia se torne necessário.
Ano passado recebi um convite para fazer assessoria à um candidato. Não aceitei. No retrasado, convidaram-me para fazer vídeos e ajudar na campanha audiovisual de um outro. Também not.
É mais forte que eu, não tenho talento para isso. Não tenho peroba e queria ter, de verdade. Até gosto de política, juro.
Outra coisa que sempre me chamou a atenção são os horários políticos, que hoje já aprendi a conviver com eles: não há horário eleitoral para os candidatos de cidades pequenas. Não há! Eu não voto nos candidatos de São Paulo, por exemplo, e eles estão arrasando em suas campanhas cheias de after effects.
Os panfletos, outdoors, campanha na TV, redes sociais. No rádio, no tablet e nas calçadas. Quantas caras, quanta gente que eu nunca vi.
Eu não bebo cerveja, mas sei que se bebesse teria mais amigos. Eu não faço politicagens, mas se fizesse...
O que me levou a escrever este texto foi um fato recente que aconteceu comigo no Facebook: Eu comentei uma foto de um amigo de faculdade, que tinha sido marcado enquanto esteve em um congresso de uma candidata xis de uma cidade xis do abC.
Na foto, repleta de jovens, a futura (ou talvez não) prefeita da cidade, falava num microfone e a única cabeça virada da foto, era desse meu conhecido. Sua expressão era engraçada e resolvi comentar assim:
'Pensamento do fulano: Na boa véi, cê acredita?' e publiquei.
Até imaginei que isso poderia render alguns comentários anti, ou mesmo outros achando a piadinha engraçada, mas o que me rendeu foi esse conhecido me chamando no bate-papo individual e pedindo, gentilmente, para que eu retirasse o comentário, pois ele trabalha na prefeitura e eu 'poderia fudê-lo'.
Pensei comigo: Quanto rabo preso! Porém, analisando a situação, percebi o quanto todos nós temos nossos rabos presos em diferentes circunstâncias da vida e em diferentes locais no mundo, até aqui.
A política é uma merda mesmo, mas dependemos dela e isso é uma outra merda. Na verdade, política e politicagem são duas grandes antíteses que se confraternizam de maneira muito implícita.
Nossas timelines ficam repletas de candidatos que aparecem nessas épocas com rostos limpíssimos, gestos carinhosos e slogans otimistas. Aí aparecem alguns dos seus amigos apoiando o ciclano, te chamando no chat, mandando email marketing estreitando laços para marcar uma conversa e apresentar propostas. Vão fazer corpo-a-corpo, são solícitos aos idosos e compartilham imagens usando terninhos black-tie.
Tudo isso é politicagem. E necessária.
O comentário que escrevi não refletia o pensamento do meu conhecido, refletia a minha opinião e sempre fazemos piadas um com o outro. A foto estava na minha timeline de uma fulana que eu nem sei que é (e agora já peguei raiva da mulher) duma cidade que nem sequer eu voto lá e eu ainda não tenho o direito de fazer o comentário que eu quiser!? Mesmo sendo brincadeira? No meu perfil? Não, não posso.
Apaguei o comentário por respeito ao meu ex-amigo. Vai saber, se calha de ele ser mandado embora e eu acabo como culpado nessa história.
Eu, sempre que vou escrever/falar/confabular sobre política, sempre tento encontrar as melhores palavras. Isso quando eu falo, porquê prefiro ficar quieto e votar em silêncio. Não tenho perfil para estar na política, ou melhor, trabalhar com politicagens, não consigo, até que um dia se torne necessário.
Ano passado recebi um convite para fazer assessoria à um candidato. Não aceitei. No retrasado, convidaram-me para fazer vídeos e ajudar na campanha audiovisual de um outro. Também not.
É mais forte que eu, não tenho talento para isso. Não tenho peroba e queria ter, de verdade. Até gosto de política, juro.
Outra coisa que sempre me chamou a atenção são os horários políticos, que hoje já aprendi a conviver com eles: não há horário eleitoral para os candidatos de cidades pequenas. Não há! Eu não voto nos candidatos de São Paulo, por exemplo, e eles estão arrasando em suas campanhas cheias de after effects.
Os panfletos, outdoors, campanha na TV, redes sociais. No rádio, no tablet e nas calçadas. Quantas caras, quanta gente que eu nunca vi.
Eu não bebo cerveja, mas sei que se bebesse teria mais amigos. Eu não faço politicagens, mas se fizesse...
quinta-feira, 9 de agosto de 2012
Passeio de barco
Todo ano, quando o Dia dos Pais se aproxima, uma incógnita
sentimental me invade de uma maneira muito peculiar. Eu não sei se digo que amo
meu pai, ou se digo que um dia tentei amá-lo.
Um abismo. É assim que eu mensuro a distância do afeto
familiar que há entre eu e a parte masculina que participou de minha criação, meu
pai de sangue. Quem me conhece bem, sabe que eu não tenho uma relação de bons afetos com
ele, embora esta relação seja de muita proximidade.
Cresci num ambiente onde sempre vi minha mãe reclamar das
ausências e irresponsabilidades daquele que era para ser o macho-alfa da casa,
o homem. Macho este, que tem a mesma inicial que a minha no primeiro nome: a
letra ‘D’.
D sempre foi
ausente. Presente-ausente. Eu como primogênito, sempre tive a figura materna
como principal fonte de força e resistência dentro do lar.
Das coisas que me lembro de D, guardo muitas lembranças. Talvez
tantas delas eu não teria caso tivéssemos uma relação de cumplicidade.
Um dia, chamei D para passarmos o dia dos pais juntos. Havia
muito tempo que não o via. Agendei nosso encontro por telefone e disse que iria vê-lo no
domingo. O primeiro dia da semana era a
data exata em que ele acordava cedo, colocava o lixo na rua, rondava a cozinha
e saía pelo bairro embebedando-se, voltando no meio da tarde com os olhos
pesados e pernas cambaleantes. Dormia o resto do dia e à noite, após o jantar,
cruzava as pernas na sala assistindo TV e pouco participava do ambiente
familiar.
Pedi para que D não bebesse naquele domingo. Ele me
perguntou aonde iríamos e preferi não responder. Minha mãe, tão dele cansada que
vivia, adiantou-me que o marido não iria e que faria normalmente seu ritual dominical.
Preferi confiar e mantive meu convite.
Nem mesmo eu sabia o motivo daquele passeio. Não havia
ensaiado nada, nem uma fala, nem um abraço e confesso que, sentia-me nervoso ao
tê-lo sóbrio comigo, num domingo, caso aceitasse o convite. Não comprei nenhum
presente, apenas encomendei um passeio de barco num grande lago no centro da
cidade.
No dia marcado, cheguei cedo em casa. Senti o mesmo cheiro
da minha antiga casa naquele bairro que vivi durante anos. O dia ensaiava-se
radiante de sol, que desde aquele momento, invadia a sala da casa com raios amarelados, lugar onde eu ainda
possuía uma cópia da chave. Logo que entrei, minha mãe desceu as escadas, ainda
de pijamas e cumprimentou-me alegremente. Senti o doce aroma de mãe quando a
abracei.
- Seu pai já saiu. Eu te falei... disse ela dando de ombros
e virando-se.
Abaixei minha cabeça e fiquei confuso por um momento.
Normalmente, naquela hora ele ainda estaria em casa com seus chinelos
arrastando-se pela cozinha.
Senti um furor momentâneo e joguei-o às valas em meu
pensamento, mas mantive minha compostura. Em silêncio, desmarquei o passeio e
já maquinava um jeito de ligar ao homem do barco e pedir um desconto pelo serviço
não prestado.
Minha mãe preparava o café na cozinha e já chamava para comer pão de centeio.
Enquanto conversávamos sobre trabalho e as contas da casa,
ouvi um barulho no portão. Era D.
Entrou com os cabelos molhados, incrivelmente penteados e disse
meio acanhado:
- Vamos?
Estava sóbrio.
O parque estava movimentado. Era nítido que algumas famílias
resolveram passar o dia dos pais numa churrascaria ou compartilhando comida e
avarezas dentro de casa.
No caminho, D não perguntou aonde iríamos. Só questionou o motivo de eu
querer falar com ele. Deve ter imaginado milhares de coisas e talvez, a mais
óbvia delas, que eu iria novamente cobrá-lo sobre algum tratamento anônimo que
possivelmente, deveria ajudá-lo numa abstinência cotidiana.
Andamos pelo parque. Conversamos sobre trabalho, sobre
nossos salários e como estava o apartamento onde eu morava. O sol refletido em
seu rosto me fez perceber que, ao lado do olho esquerdo, havia uma pequena
cicatriz. Perguntei o que foi e ele respondeu imediatamente: caí.
Um turbilhão de imagens veio à minha cabeça e percebi que
não deveria ter perguntado. D não estendeu a conversa e logo avistou um grande
lago.
- Está bonito, bem cuidado né!? Disse
- Tá
Começou a elogiar o prefeito da cidade e lembrou de um deles,
de candidatura passada, que havia sido assassinado há quase duas décadas. O assunto
foi parar em política e logo se lembrou da politicagem mal feita que resultou
em seu desemprego passado. D trabalhou durante anos em uma empresa e foi
mandado embora, fruto de seu desencadeamento alcoólico. A culpa, para ele, era do
chefe que participava de propinas na empresa.
Avistei o velho com quem eu tinha falado há uma semana e combinado o passeio. Paguei adiantado e queria apenas navegar em descanso sobre aquele lago. Queria a certeza que teria uma barco só para este momento.
Aproximei-me e cumprimentei-o formalmente. Após rápido aperto de mão, apresentei-o também
à D. Quando o homem pegou em sua mão, vi que as mãos de D eram bem mais
maltratadas e com aspecto mais envelhecido do que as mãos daquele homem velho.
Guardei mais lembranças.
O homem oferecia passeios de barco pelo lago. Meu pai
observava com desconfiança minhas atitudes. Não imaginava que eu iria querer
navegar num lago desconhecido como aquele. Pelo que me consta, D nunca havia
entrado em um barco sequer para conhecer. Muito menos eu.
Sugeri que entrássemos em um dos barcos. O filho mais novo
do velho acompanharia nosso passeio por aquela pequena imensidão verde-ocre.
O lago era grande, mas não se perdia a vista. Um pequeno
cais adentrava as águas da margem e os barcos ficavam enfileirados um ao lado
do outro, batendo-se os cascos. D olhou-me e eu o convidei para que pudéssemos
juntos, navegar pelo lago do centro.
D rejeitou com um sorriso acanhado e virando-se preferiu
olhar-me de longe, como sempre fez.
Entrei no barco e com meu colete salva-vidas estendi a mão e
chamei-o mais uma vez. Ele percebeu que era sério e com um olhar sereno
assentiu. Ligeiramente, pediu outro colete para o velho e entrou no barco também, que
balançou para os lados, fazendo-o rir.
Sentou em frente a mim e deu espaço para que o negro, filho
do velho, pudesse nos ajudar a remar. O menino alto foi em pé, no bico do
pequeno barco, enquanto eu e D adentrávamos juntos aquele imenso lago,
sentados num barquinho.
Olhei para as águas que agora eram nosso sustento. Olhei
também para os cabelos penteados do meu pai e vi uma inocência em seu olhar. O
vento batia leve em seu rosto e percebi pela primeira vez na vida, que éramos
homens e que havíamos desperdiçado tanto tempo buscando uma resposta para os
motivos que nos afastam.
Me bateu uma vontade de chorar e D percebeu isso. Olhou-me e não
soube o que fazer. Tudo o que ele temia era que eu o abraçasse e pedisse para
que ele fosse mais presente em minha vida. Queria pedir desculpas também, por
não ter sido quem ele queria que eu fosse. Cobrá-lo, para que ele fosse o que
eu queria. Despedir-me, apresentar-me novamente como filho. Aceitá-lo como pai.
Pendi a cabeça para o lado e vi a margem do lago bem ao
longe. O jovem negro alçava o horizonte com o olhar e eu agora olhava para o
chão. Quando chegamos ao meio do lago, pude perceber o quão imenso era aquela
reunião de águas. Pedi para pararmos. O jovem obedeceu.
D estava desconcertado. Eu também. O barco balançava de um
lado para o outro e nós agora já estávamos em alerta, mesmo em silêncio, de que
alguma cobrança iria surgir. Nossos olhares traziam nossas vidas afastadas.
O sol batia em seu rosto, um semblante cansado num corpo magro
e definhado por tantos anos de bar e solidão. Éramos dois agora, num barco a
balançar, no meio de um lago fundo.
- Gostou?
- Do quê? perguntou
- Do passeio...?
D sorriu e disse que estava com medo. Eu também estava. Percebi
neste momento, que somos assustadoramente iguais.
Vendo seu reflexo na água embaçado pelo sol, pedi ao jovem
alto que continuasse o percurso. No barulho do remo encostando-se à água, o
barquinho adiantou-se e continuamos a sacolejar sobre aquelas águas brandas de
um domingo à tarde em um singelo passeio de barco.
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domingo, 5 de agosto de 2012
Phantasmagoria - Análise
Assisti o quadro Phantasmagoria e resolvi escrever este post sobre.
Produzido pela Rede Globo, o dominical Fantástico - O Show da Vida resolveu fazer um quadro para desvendar possíveis casos fantasmagóricos em lugares ditos assombrados pelo Brasil. Fiquei um tanto preocupado quando vi que a Globo resolveu novamente falar sobre fantasmas. Acho a rede muito velha mídia, quadradona e sempre muito preocupada com estética e padrões implantados por eles mesmos, mas vamos ver.
O cenário para o primeiro episódio da série foi um castelo no Pará, conhecido com Eldorado. Muitos relatos de vultos e aparições foram atribuídas ao lugar.
Primeiro: castelo. Lugar muito propício para tal, mas ainda tá valendo. O que mata o quadro são alguns trovões estalando na vinheta e nas animações. O quadro é igual a tudo o que é produzido sobre temas sobrenaturais: uma espécie de documentário daqueles produzidos pelos canais pagos Discovery Channel ou pelo Syfy, visto 'Minha História de Fantasma', 'Famosos e Fantasmas' ou 'Lugares Assombrados' no qual você nunca sabe se é ou não verdade. É também um jogo, como o extinto FEAR, produzido nos anos 90 pela MTV com apenas um episódio exibido no Brasil.
No Phantasmagoria, três participantes voluntários foram ao Castelo Eldorado parainstigar 'investigar' as supostas aparições. Receberam lanternas e teriam que completar provas no escuro.
A primeira tarefa foi dada à um jovem que teve que ir ao jardim e chamar um vulto que foi visto pelo jardineiro do castelo. Em um gravador colocado previamente, o apresentador do Fantástico fica ditando regras, o que tira todo o suspense do ar. Ele até tenta fazer uma voz mais metálica, mas não rola.
Os demais participantes, também ficaram recebendo ordens de um gravador e chamando os fantasmas, instigando-os à aparecer.
Na última prova, os três chamaram uma suposta mulher de branco que aparecia na janela. Nada mais clichê.
No final do quadro, um especialista do tipo que desvenda 'mistérios' explicou os motivos dos estalos na casa e as vultos que afirmaram ter visto. Explicações científicas foram dadas para os estalos, cheiros e vultos.
O quadro tem como base os espetáculos antigos feitos com ilusionismo, que davam a impressão na platéia de ver um ghost. Confesso que o quadro não é tão interessante, serve mesmo para dizer de maneira implícita: "Isso não existe gente", mas busca entreter. Visto que, o programa exibiu logo após, uma matéria sobre Transexualidade e Homofobia, dois grandes apelos e que rendem muitos interessados.
O quadro não quis explicitar conceitos verídicos ou não, deixando para que o telespectador faça sua própria conclusão.
Ao meu ver, a história do local já faz todo o suspense acontecer. Quando se tem uma narrativa que vem sendo contada e esta narrativa é atribuída à um lugar, os fantasmas já aparecem neste contexto, sem precisar apagar a luz.
Em uma das falas de uma participante, ela dizia que 'não precisa aparecer fantasma nenhum, o lugar já basta'. É exatamente neste ponto que quero chegar: o sobrenatural está naquilo que é construído pela mente e não em descobertas de verdade ou mito, científicas ou não, porém esta é a proposta central do quadro, que serve mesmo para entreter de maneira efêmera e logo ser esquecido com um assunto mais sério. Não que fantasmas e afins não seja, mas não é o caso do quadro do Fantástico.
Produzido pela Rede Globo, o dominical Fantástico - O Show da Vida resolveu fazer um quadro para desvendar possíveis casos fantasmagóricos em lugares ditos assombrados pelo Brasil. Fiquei um tanto preocupado quando vi que a Globo resolveu novamente falar sobre fantasmas. Acho a rede muito velha mídia, quadradona e sempre muito preocupada com estética e padrões implantados por eles mesmos, mas vamos ver.
O cenário para o primeiro episódio da série foi um castelo no Pará, conhecido com Eldorado. Muitos relatos de vultos e aparições foram atribuídas ao lugar.
Primeiro: castelo. Lugar muito propício para tal, mas ainda tá valendo. O que mata o quadro são alguns trovões estalando na vinheta e nas animações. O quadro é igual a tudo o que é produzido sobre temas sobrenaturais: uma espécie de documentário daqueles produzidos pelos canais pagos Discovery Channel ou pelo Syfy, visto 'Minha História de Fantasma', 'Famosos e Fantasmas' ou 'Lugares Assombrados' no qual você nunca sabe se é ou não verdade. É também um jogo, como o extinto FEAR, produzido nos anos 90 pela MTV com apenas um episódio exibido no Brasil.
No Phantasmagoria, três participantes voluntários foram ao Castelo Eldorado para
A primeira tarefa foi dada à um jovem que teve que ir ao jardim e chamar um vulto que foi visto pelo jardineiro do castelo. Em um gravador colocado previamente, o apresentador do Fantástico fica ditando regras, o que tira todo o suspense do ar. Ele até tenta fazer uma voz mais metálica, mas não rola.
Os demais participantes, também ficaram recebendo ordens de um gravador e chamando os fantasmas, instigando-os à aparecer.
Na última prova, os três chamaram uma suposta mulher de branco que aparecia na janela. Nada mais clichê.
No final do quadro, um especialista do tipo que desvenda 'mistérios' explicou os motivos dos estalos na casa e as vultos que afirmaram ter visto. Explicações científicas foram dadas para os estalos, cheiros e vultos.
O quadro tem como base os espetáculos antigos feitos com ilusionismo, que davam a impressão na platéia de ver um ghost. Confesso que o quadro não é tão interessante, serve mesmo para dizer de maneira implícita: "Isso não existe gente", mas busca entreter. Visto que, o programa exibiu logo após, uma matéria sobre Transexualidade e Homofobia, dois grandes apelos e que rendem muitos interessados.
O quadro não quis explicitar conceitos verídicos ou não, deixando para que o telespectador faça sua própria conclusão.
Ao meu ver, a história do local já faz todo o suspense acontecer. Quando se tem uma narrativa que vem sendo contada e esta narrativa é atribuída à um lugar, os fantasmas já aparecem neste contexto, sem precisar apagar a luz.
Em uma das falas de uma participante, ela dizia que 'não precisa aparecer fantasma nenhum, o lugar já basta'. É exatamente neste ponto que quero chegar: o sobrenatural está naquilo que é construído pela mente e não em descobertas de verdade ou mito, científicas ou não, porém esta é a proposta central do quadro, que serve mesmo para entreter de maneira efêmera e logo ser esquecido com um assunto mais sério. Não que fantasmas e afins não seja, mas não é o caso do quadro do Fantástico.
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