Neste blog, pequenos textos do muito que se vê, se fala e se vive na poesia calcada de suor no cotidiano. Assim como o feminino de 'leão' é 'leã', de 'cão' é 'cã', o diminutivo de texto é "Textículo"
quarta-feira, 7 de julho de 2010
Liberdade, liberdade
Embora eu (ainda) não use Black-tie, já me sinto muito próximo de compromissos inadiáveis onde tenho em mãos o livre arbítrio de desistir ou não de tais afazeres. Levei-me a refletir sobre a tal liberdade enquanto, sentado no sétimo andar do prédio onde todos os dias ganho o pão que o diabo amassa comigo, estava a degustar de comida pronta em montes, em um dia ligeiramente ensolarado. Da vidraça fechada em minha frente, via ao longe duas das chamadas montanhas-russas a fazer pessoas gritarem e eu, a vê-las girar e voltar em trilhos de ferro bem estruturados, invejava em pensamentos aquele momento de êxtase momentâneo alheio. Mesmo em pouco tempo do passado, eu também já ter corrido naqueles trilhos, me questionei quem estaria sentado nos carrinhos coloridos em plena terça-feira, gritando, soltando gemidos de felicidade, enquanto eu, terminaria o bife e voltaria aos afazeres maçudos. Não só na montanha, mas também no kamikaze, na queda livre ou no algodão rosa de cor doce.
Eram adolescentes, em sua maioria, de pais-alicerces ou pai-dinheiro, que ainda, ou quem diga nunca, chegariam a preocupar-se com o pão e azeite para as crias.
Voltando ao conceito libertário, ou aos pensamentos que o rodeiam, questionei-me (ou a Deus, ou à vida, ou a quem queira responder) o que é ter liberdade, ou ser livre para divertir-se às terças, ao meio dia e pouco e ainda sorrir? Se ter um trabalho, sendo ele digno, não poderia pensar em cargos mais políticos ou que envolvam propina ou diplomacias mais rígidas. Nestes cargos, têm se muito dinheiro lavado, de outros e quase sempre os filhos é que gozam dessa vantagem. O pai, muito faz, paga mulheres da vida que executem bem o sexo enquanto fecham o vidro do carro para assim poderem gozar, agora literalmente.
Liberdade, pode vir também em forma de um bom emprego, um trabalho que seja ingrato no salário, mas te dá estabilidade ou instabilidade, depende do quanto você busca em termos financeiros para alternância dos significados. Porém, há controvérsias nisso tudo e nesse papo de voar sem limites. Em um mundo capitalista e mediocrático, ou trabalha-se para garantir a polenta e não sobra restos de tempo para as montanhas russas, ou se tem um maior que banque essas futilidades com sol no meio da semana. Ao mesmo tempo que abocanho a escarola, lembro que aos finais de semana, me sinto perdido, vagabundo até ou mesmo sem o chamado ‘ânimo’ para ir ao parque e apenas não fazer nada. O gosto teria mais tempero se naquele momento, naquele do almoço, eu deixasse o sétimo andar e fosse correr aos braços da liberdade que me garantiu aquele parque, que até então estava pequeno pela altura que eu estava.
Outro conceito, claro pensado e analisado por este que vos escreve, é ter férias, muitas vezes mal remuneradas, mal aproveitadas por ter prestações a pagar. A idade aproxima a aposentadoria e quando isso acontece, virão as rugas e o cheiro de tecido velho, que a labirintite não vai deixar cair de uma altura de sessenta metros içado a um cabo de aço.
E assim, fica no ar o que é ser livre, ter liberdade, viver as liberdades da vida. Ter emprego e não dinheiro? Dinheiro, quem pague e nada de prestígio profissional? Dinheiro, prestígio, beleza, quem pague e dias livres? Nestas arestas tenho medo da monotonia, isso com ou sem trabalho. Aguardar a próxima estação e nela descer ou pegar o primeiro trem e nele embarcar? E nisso juntam-se tantas outras pendências, como a ginástica, a balada, o sexo, um amor (que é o mais complicado deles) e instintivamente o emprego que nos tira, nos dá e nos questiona sobre essa liberdade auto-assistida.
Nota: “Depois, neste mesmo dia, já noitinha dentro do carro, ao filosofar com minha mãe sobre o texto acima, ela, me escutando e ouvindo o cri-cri do grilo, soltou: ‘Tudo é tão simples como o som do grilo’ Calei-me.”
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Mãe sempre tem razão. Mas difícil saber: somos aprisionadamente livres ou livremente aprisionados?
ResponderExcluirI wonder...
Acho que a liberdade é uma doce ilusão. No entanto, acredito que o ser humano precisa da ilusão, tanto quando da realidade. Não acha?
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