quinta-feira, 10 de março de 2011

O Jardim

Sem nenhuma notificação de ser um jardim, de plantas, grama e flores, estas para enfeitar, ali notava-se a ausência de qualquer indício em haver árvores frutíferas ou apenas de longas caudas. Uma brisa leve ultrapassava a entrada desse lugar, fechado com um portão de grades ferrosas e trepadeiras valentes que se engranfinhavam pela fachada. Daí, talvez, viesse a sugestão de ser um jardim, pelas trepadeiras, aquele lugar fechado todos os dias.
As plantas frontais eram altas e nada se via além do portão verde, nem os ferros, sustento do portão, aliás, o portão. Toda primavera, pessoas de todas as idades escolhidas no tempo de cada ramagem, ultrapassavam o portão para dentro. Um jardim amplo, deveras iluminado, de onde saía uma brisa, leve como o ar, pacífica, ninguém saía, só entrava. Antes das flores voltarem à vida, antes de o sol esfriar um pouco, aos poucos, gente se amontoava por ali e acabavam com o mistério, porém não podiam voltar os que estavam dentro, para contar como era. Quem ficava de fora, não conseguia enxergar para dentro do portão escancarado, nem ver o que havia lá, no chão ou acima dele. Quando o portão se abria, via-se apenas o rosto das pessoas que entravam e o seu contentamento e por mais aberto que os ferros trepadeiros estivessem, no momento da entrada, quem ficava de fora fixava o olhar no olhar do outro e nada mais conseguia ver além disso. A cada entrada da multidão escolhida, os curiosos de fora se encantavam com a beleza dos sorrisos de quem ia e alguns até queriam entrar também, mas ainda não era a lua certa.
Viam-se as despedidas momentâneas na beira do portão, com lágrimas, conformidades e alguns com dor, apenas alguns, pois o lugar era lindo, ou deveria ser quando abria repentino seus gradis. Era um portão ferroso, alto, mas com algumas pequenas flores entre as trepadeiras que o cobria, quase impossíveis de notar. Nem todos entravam no início da estação, mas uma lista, escrita à mão, era colocada sem atrasos a cada nova estação e ali estavam escritos os nomes de quem entraria no tempo certo de colheita. Uns entravam cedo, outros mais tarde, mas todos um dia se encontravam nesse ambiente, que parecia um jardim, belo e imenso, sem indícios de flores, grama verde ou árvores de caudas longas.
A única coisa que passeava daqui para lá e de lá para cá, sem avisos, era a brisa. E nada mais.

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