
Para quem quiser ler (e para, quem quiser, acreditar)
Quem me conhece sabe que sou totalmente ligado às questões sobrenaturais, ainda mais quando essas se dizem verdadeiras. Apesar do clichê do “Baseado em fatos reais”, essa propaganda para atrair turistas, ainda me atrai em determinada escala, até porque, algumas situações já aconteceram comigo.
Antes de entrar em meus relatos pessoais – e medonhos – venho destacar o que ainda me bota medo. O escuro não digo ser a base dos meus calafrios, embora nele possam acontecer muitas coisas que jamais poderão ser explicadas. Embora, quase todos os fatos que se seguem aconteceram no escuro.
Tenho muito medo de zumbis, esses seres cambaleantes, vagarosos e em estado de decomposição. Meu medo está neles, no fato de já terem morrido e voltarem para nos devorar. Não tenho tanto medo de sua mordida ou no real perigo que oferecem, mas em todo o processo que envolve um zumbi. É um cadáver, uma pessoa que já morreu, que podia estar dentro de um caixão ou embaixo de uma sepultura. Todo símbolo fúnebre acompanha este ser faminto por cérebro (ou carne humana). O meu grande medo é ver, um dia, alguém levantar do caixão ou mesmo abrir os olhos no velório, no seu velório. Por mais que haja alegria alheia pelo dito estar vivo, acho que eu correria gritando e chorando cemitério a fora. Falando neste lugar, o cemitério é um lugar mais misterioso do que medonho para mim. Gosto dele, claro que, não para passear num domingo de folga, mas não creio que lá moram meus maiores medos.
Os fantasmas são os maiores causadores de insônia. Ao contrário dos zumbis, eles podem existir. Não que zumbi não exista, eu não disse isso, mas são mais raros, visto pelos casos no Haiti, envolvendo toda a questão religiosa do vodu, seita proveniente do lugar. Porém, os ‘gasparzinhos’ podem ser uma realidade, pois já vi gente descrente ter medo, (como minha mãe, por exemplo, depois de assistir "Atividade Paranormal). É o desconhecido, envolve a morte e a alma que saiu do corpo, que vaga, que pede ajuda ou que aparece atrás das coisas. Outro quesito questionável é o porquê esses espectros adoram aparecer atrás das coisas? É atrás de armário, cortina, reflexo no espelho e principalmente atrás da porta do quarto, do nosso quarto, do seu quarto. Filmes com essa temática fazem sucesso, pois apresentam casos do desconhecido, daquilo que não possa ser realmente explicado.
Dúvida: um zumbi é um corpo sem espírito. Um fantasma, um espírito sem corpo. Então, enquanto o corpo cambaleia, o espírito desse mesmo corpo pode atormentar os vivos? Uma espécie de ‘conjunto sobrenatural’ onde espírito e corpo assombram em diferentes escalas?
Os extraterrestres também fazem muito marmanjo ter insônia. Outro fator desconhecido, de seres que possam viver em outros planetas – além da Terra – e com inteligência superior aos humanos. Naves e OVNI’s são vistos em todo o canto do mundo. Tem gente que não liga para fantasmas e zumbis, mas se borram quando o assunto é ET. Teve o caso do Et de Varginha, os “causos” inexplicáveis no triângulo das bermudas e outros Bilús que aparecem por aí. O cinema aproveita para criar situações diversas para nossos amigos Etevaldos.
Outras plataformas do medo tentam molhar as calças do povo, como bolhas assassinas, aranhas gigantes (embora eu mooorraa de medo de aranha de qualquer tamanho) seres do mar gigantescos, enfim.
Alguns casos aconteceram com este que vos escreve. Isso sem contar os amigos que me relataram outras situações de medo. Segue uma delas, que aconteceu comigo, justo comigo:
O causo do Raimundinho
“Esse é o caso que pode parecer engraçado hoje, mas quase me fez chorar de medo na época que aconteceu”
Em uma cidade do interior, chamada Avaré, onde costumo passar minhas férias e feriados, mora minha avó materna e outras tias. Meus pais tem casa lá também.
O cemitério da cidade é bem comportado, digamos. Bem cuidado pela prefeitura, com algumas esculturas e ficou mais visitado pela minha família desde quando meu avô passou a morar lá. Sepultado. Confesso que, este cemitério, me atrai mais pelas histórias e lendas que o rodeia do que pelas esculturas tumulares.
Raimundo é um menino que morreu antes mesmo de eu nascer. Ficou doente, faleceu e foi enterrado neste cemitério em um jazigo pequeno, reformado posteriormente com azulejos azuis e uma foto sua com roupa de criança do século 19. Aquelas roupas que incluem chapéu e bordados ondulados.
Sempre acompanhei as lendas e contos da cidade que incluem o túmulo dessa criança morta. Algumas mães aflitas com o comportamento de seus filhos pequenos, rogam à esse menino, pedindo ajuda, para que seus filhos deixem a mamadeira, ou o hábito da chupeta e até as fraldas. Ao alcançar essas ‘graças’, as mães deixavam no túmulo alguns doces e até as respectivas chupetas de seus filhos, como forma de gratidão. Claro que, para os mais materialistas, isso só daria mais trabalho aos zeladores do cemitério, que tinham de limpar toda essa oferenda. Para os mais espiritualistas, isso refletia uma forma material de gratidão e oferta ao menino morto.
Nos dias de finados, o cemitério ficava lotado, com missas e celebrações em oferecimento aos mortos. Lembro-me que, nessas datas, o túmulo do Raimundinho ficava repleto de doces, inclusive balas rosas de Yorgut que eu adorava, mas jamais tive coragem de pegar uma delas e comer. Chupetas coloridas também ficavam durante dias ao lado de velas, sobre o túmulo do menino. Com o passar do tempo, construíram uma mini capela in front ao túmulo do pequeno, que se hoje estivesse vivo, seria mais velho que eu. Essas explicações se deram para você entender essa lenda de cidade pequena.
Nunca fui atrás de mais relatos sobre o menino, embora meu irmão mais novo disse que ele morreu de uma doença contagiosa. (Talvez eu siga mais adiante nesse assunto na próxima vez que for para lá, eu disse Talvez!)
Eu e minha alma de cineasta, num belo dia, levei minha Handycam ao cemitério para gravar esse túmulo. Gravei as balas, as velas e inclusive a foto do Raimundo, sem diminutivos dessa vez. Acompanhado dos meus irmãos e alguns primos, me divertia fazendo imagens dessa lenda morta-viva dali. Dei até zoom na fotinho. Meu irmão brincou:
- Você não trouxe balas para o Raimundinho. Ele vai cobrar pela filmagem.
Tentei me desvencilhar dessa afirmação:
- Imagina, Raimundinho não faria isso.
Visto que certo calafrio me correu as pernas, fui me entreter com outro túmulo ou outro assunto. Não queria ser cobrado posteriormente.
Sei que nesse dia, consegui com exclusividade, imagens dum coveiro em uma desossada. Perguntei se ele não tinha medo da profissão e aquela famosa frase veio à tona: “Tem que ter medo é dos vivos, né fio” Não concordo muito com isso.
Naquele mesmo dia, após sairmos do cemitério, tomei banho (por higiene, não por superstição) e junto com minha mãe, fui visitar uma prima. Cristina, a prima, tem seis filhos e seis pais diferentes para cada um deles.
Um deles, o mais novinho me pediu para comprar doces. Comprei uma boa quantia de balas e distribuí entre eles. Ficamos um tempo lá e depois seguimos para minha casa. Neste dia, especificamente dormiram em casa apenas mamãe e eu. Ela no quarto dela e eu num quarto nos fundos, colchão no chão.
Dormi, acordei depois de algum tempo. Meia noite e quarenta e dois. Quase uma da madrugada. Ouvia algumas poucas pessoas conversando na rua e me virei para re-dormir. Dormi novamente, acordei. Duas da manhã agora. Olhei no celular e este iluminou todo o quarto. Uma pequena luz na escuridão, ilumina um quarto inteiro.
Fechei os olhos para retornar ao sono, mas todo sono se foi quando ouvia alguns barulhos ocos na parede, como se alguém batesse, parasse e depois batesse mais. Parecia correr, parecia caminhar na parede. Era um ruído contínuo, alternava na velocidade mas sempre voltava. Não parecia um gato no estuque, mas eu queria que fosse um gato no estuque. Era como alguém batendo na parede com as mãos fechadas. E com as mãos de lado.
Fiquei amedrontado e nenhum cachorro latia lá fora. De vez, acendia o celular para iluminar o quarto e corria com o neon sobre as paredes. (e o medo de ver alguém agachado aos pés do colchão) Fechava os olhos e o barulho tornava-se quase inaudível, mas no silêncio da noite, era audível, penosamente audível.
Levantei e fui ao quarto de mamãe, que dormia pesadamente. Chamei uma, duas e na terceira vez ela, assustada, perguntou o que eu queria. Perguntei quem morava nas casas do lado. Do lado do barulho, disse, morava um casal e no outro, baldio.
Até brinquei, tentando amenizar o momento, que o filho desse casal escolheu um horário péssimo para brincar. Mamãe em seu sono, disse que o casal não tinha filhos e mesmo que tivesse era impossível ele brincar, pois estavam viajando.
Meu medo aumentou, mas não até o momento que, em seu quase sono mamãe soltou: “Você fica filmando cemitério, as coisas vieram junto com a filmagem” Nessa hora Raimundinho e a foto dele, brilharam nitidamente em minha mente. O pavor me dominou.
- Dorme que passa, ela disse.
Dormir? Oi? Era o que eu mais queria naquele momento e enquanto eu ainda falava com ela, os murros na parede continuavam. Murros, passos, tapas, sei lá eu. Até incentivei-a a ouvir mas o que eu ouvi foi seu ronco fundo. Dormia.
Voltei para o colchão no chão, voltei para o neon do celular que agora acendia de minuto a minuto, menos que isso. Rezei, na esperança de afastar aquele medo. Tava com muito medo, tudo estava estranho e tive real vontade de chorar. Rezava e entre uma palavra do Pai-Nosso e Ave-Maria, balbuciei:
- Raimundinho, se for você: não levei bala ao seu túmulo, mas comprei aos filhos da Cristina.
Não sei se foi a oração, as balas ou a promessa íntima de apagar a gravação, mas logo após uns minutos, os sons pararam. Tudo cessou e o silêncio me trouxe mais medo, mas ao mesmo tempo um alívio. Senti que estava seguro e adormeci. Só lembrei-me disso quando acordei no outro dia e apaguei, sem dó, toda a gravação.
Conto mais votado:
"O porco na janela"
Essa situação se deu na mesma cidade do caso acima: Avaré. Eu e minha tia, Laís, antes de dormir, conversávamos no quarto. Ela numa cama de solteiro e eu em um colchão, no chão, ao lado. Era quase meia-noite.
Atrás da casa, havia uma outra casa, que fazia parte do mesmo terreno. Era uma casa alugada, de três cômodos.
Enquanto conversávamos, ouvimos o portão abrir e fechar. Passos avançaram no corredor. Passos lentos, de quem não estava com pressa e ousaria dizer, cambaleando.
- A mulher deve estar bêbada, sugeriu Laís.
Imaginamos quase que unânimes que era uma mulher, pois o barulho dos passos mais pareciam com o barulho de sapatos de salto. Passos lentos e descompromissados, naquela hora da noite.
Não demos tanta trela aos passos de salto e voltamos a conversar sobre outras coisas. Não me lembro como, mas acabamos caindo em assuntos que envolvem cemitério e pessoas já falecidas de nossa família. Passava da meia noite.
Inesperadamente, ouvimos bem próximo da janela do quarto, um grunhido alto, rápido e gradativamente grave. Paramos o assunto, paramos de imaginar e ficamos sem ação durante longos dois segundos.
Meu corpo pulou do colchão e ao sair, percebi que Laís não conseguia se levantar de tanto medo. Voltei ao quarto e apenas minha presença a fez levantar e correr para a cozinha.
Apavorados, corremos ao quarto de minha avó e dissemos que ouvimos um som parecido com o som que o porco emite quando está com fome.
Minha avó, como sempre, sugeriu que fôssemos dormir e ainda bronqueou com o fato de estarmos acordados até aquela hora.
Custou para voltarmos ao quarto, porém nada mais soou da janela.
Essa história me rendeu muitas piadas, em rodas de amigos, e vários títulos rondam sua veracidade. "O porco de salto", "O porco na janela" são os mais sutis.
Eu e Laís, quando nos encontramos, questionamos um ao outro o grunhido que ouvimos naquela noite.