Quem dirá o que acontece na trinta e sete da esquina dois? Atrás da parede amarelada, pintada de azul e depois de verde, mora tanta gente que fica difícil distinguir quem é homem, mulher e criança. Na rua, são juntas, amontoadas, sobradinhos. Casas de pedra, tijolo e forro. Telhado de vime, vidro, madeira do teto ao chão.
São fachadas, onde moram mulheres, meninos e policiais. Onde existem pessoas de bem, de mal e gente de sal. Bem dá para ver a laje da casa dois e mal se nota a janela do banheiro da casa sete, que mais parece um depósito de ferro e guarnição desnecessária.
Há apenas uma casa com três andares, dois ocupados e um que ninguém mora nem limpa. Daria para viver duas pessoas que moram ali perto da viela, onde mal se alojam no cubículo sem número.
Tem um banco, banco simpático de praça no quintal do portão laranja. A mulher mora com o marido, o filho e a lembrança da filha no exterior. O cão late de longe e sabe quem passa na rua. Cão não gosta do homem da casa do lado que mora sozinho e trabalha de madrugada.
Na primeira casa da rua, ninguém tá, ninguém mora, nem mesmo o vento. Só folhas, fantasmas e folhetos. Na casa do lado, mora um sozinho, que sempre tem companhia. Em frente, mora uma velha mulher, rodeada de gente família, sozinha, sedenta em lascívia e enrugada pelo tempo.
São fachadas. São casas.
Pessoas que moram e que ninguém sabe o que acontece dentro de cada morada. Falam de um, falam de outros, imaginam, envergonham e pouco se sabe o que se passa do começo da rua para o fim dela, de cima da calçada para dentro da sala.
Quem dirá o que acontece na parte de dentro das fachadas? Num bairro pequeno, de gente modesta, que pinta a frente de casa para alegrar o dia-a-dia que passa e passa.
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